Como as figuras socialmente marginalizadas, alvo de preconceitos e caricaturas, encontram seus espaços de existência? Como as fronteiras de gênero e sexualidade se relacionam com os espaços urbanos? Como as fragilidades, subitamente, podem se tornar potências? O grupo Circo no Ato se guiou por essas perguntas para a criação do espetáculo “Praticantes do amor cujo nome não se ousava dizer”, que estreia, dia 17 de novembro, no Sesc Copacabana, com sessões de quinta a domingo, às 20h, até 10 de dezembro. Com roteiro e direção de Natássia Vello, a montagem procura destruir simbolicamente as estruturas de poder ao criar um espaço de existência atravessado por dores, medos, amores e desejos de três corpos desviantes, vividos pelos atores-acrobatas Camila Krishna, Carol Costa e Rafael Garrido. O espetáculo foi contemplado no Edital Sesc RJ Pulsar 2022.
A dramaturgia foi criada a partir de inspirações do livro “Novas fronteiras das histórias LBGTI+ no Brasil”, com organização de Paulo Souto Maior e Renan Quinalha. A coletânea apresenta 24 artigos inéditos sobre dimensões ainda pouco exploradas da história LGBTI+ no Brasil, com foco na vivência em contextos de maior vulnerabilidade e precariedade. O espetáculo é um desdobramento do anterior, “Livre Acesso”, que provocava reflexões sobre a construção social dos papéis de gênero na sociedade. Mas as acrobacias coletivas, marcas do trabalho anterior, agora dão lugar a técnicas como trapézio, força capilar, paradas de mão, contorcionismo e acrobacias individuais. Com uso de projeções e uma estrutura de ferro piramidal, os artistas se alternam e se juntam em cenas que evidenciam a opressão do sistema, a liberdade sexual e a luta contra os poderes estabelecidos.
“No espetáculo anterior a gente mostrava de que maneira a construção dos papéis de gênero e o patriarcado estão relacionados ao surgimento do capitalismo. A opressão da mulher era foco do trabalho. Agora, desdobramos essa pesquisa para questões da comunidade LGBTQIAPN+”, explica a diretora Natássia Vello. “Minha dramaturgia pensa sobre as fronteiras de gênero, as fronteiras de poder, de território, centro e periferia. Também abordamos conflitos sociais e raciais, já que é impossível falar de gênero e patriarcado sem passar pelas questões raciais”, completa.
Em cena, os artistas realizaram diversos números com figurinos marcados pelo jeans, tecido democrático, usado por pessoas variadas, em culturas e tempos diversos. As cenas do trio são inspiradas por personagens presentes no livro, que viveram desde o período colonial até a atualidade. Um deles é o Gica, que viveu na fronteira do Mato Grosso com o Paraguai: negro, homossexual, pobre, periférico, e figura respeitada e poderosa. “As fragilidades, dependendo de seus contextos e de como são agenciadas, também podem virar potência”, conclui Natássia.
Sinopse
Três corpos desviantes performam suas dores e desejos reconfigurando as dinâmicas de poder operantes. Ao encontrar seus pares, os três excluídos e isolados pela sociedade, fazem de suas “fragilidades” potência, transformando os limites que os enclausuravam em espaço de existências diversas, onde amar é um ato político.
Sobre o Circo no Ato
O Circo no Ato é um coletivo circense carioca com dez anos de atuação no campo da produção de eventos, criação e circulação de espetáculos, capacitação técnica e artística. Em sua trajetória, visitou 23 cidades do Rio de Janeiro, 15 estados brasileiros e 11 países. O coletivo pesquisa a linguagem do circo contemporâneo através de técnicas circenses como parada de mão, flexibilidade, força capilar, dança acrobática e acrobacia em grupo. Entre seus espetáculos de repertório, estão “Um dia de João”, “Febril”, coprodução com o Crescer e Viver, “A Salto Alto”, “Cabaré Circo no Ato” e “Bagunço no Ato”. O grupo se constituiu durante a formação profissional da escola de Circo Social do Crescer e Viver, e acredita no circo também como uma ferramenta de transformação social. Realizou trabalhos no Crescer e Viver, no Se Essa Rua Fosse Minha e no Círculo de Criação em Armação dos Búzios. No exterior, atuou junto a crianças refugiadas da Síria, no festival Flying Carpet, na Turquia, e com crianças refugiadas no Rebel Circus School, na Palestina. Integra a rede internacional Pallasos em Rebeldía, que realiza ações de cunho artístico e político em territórios de conflito. Realizou o Festclown Favela, no Rio de Janeiro, e participou de ações na Palestina e em aldeias indígenas e acampamentos do MST em Santa Catarina. Realizou duas montagens em coprodução com a companhia Kanbahiotas, de Madri, inspiradas nas experiências de atuação no campo social com a rede Pallasos em rebeldía: “Colhendo Histórias pela Terra”, em 2021, e “Risas Rebeldes”, em 2023, ambas com direção do palhaço e ativista internacional Ivan Prado. Atualmente a companhia circula com seus dois espetáculos mais recentes, “Livre Acesso”, que aborda os papéis sociais atribuídos aos gêneros, e “Se der Corda”, primeiro infantil da companhia. Ambos com roteiro e direção de Natássia Vello.
Serviço
Espetáculo “Praticantes do amor cujo nome não se ousava dizer”
Temporada: 17 de novembro a 10 de dezembro de 2023
Sesc Copacabana / Arena: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio de Janeiro – RJ
Telefone: (21) 2547-0156
Dias e horários: quinta a domingo, às 20h. Dia 9/12, às 17h e 20h
Ingressos: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia-entrada) e R$ 7,50 (associado do Sesc)
Lotação: 242 lugares
Duração: 1h
Classificação: 14 anos
Venda de ingressos: bilheteria do teatro, de terça a sexta, das 9h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 14h às 20h.