No intervalo de uma semana, entre o final de agosto e o começo de setembro de 1997, um mundo de mudanças se abateu sobre a realeza da Inglaterra. O que era secular se modernizou, o que era dogmático se flexibilizou e o que era particular se tornou público. Depois daquela semana, em que morreu a ex-princesa Diana e Tony Blair (Michael Sheen) elegeu-se Primeiro-ministro, a Rainha Elizabeth II nunca mais foi a mesma.
O formidável A Rainha, de Stephen Frears, repassa a semana dia a dia. Começa com a eleição de Blair, representante do Partido Trabalhista, reerguido ao poder – depois de 18 anos de hegemonia do Partido Conservador – com discurso de reciclagem das relações de trabalho, incentivando o livre mercado sem deixar de lado a assistência social. É a famosa Terceira Via que fez de Blair um ‘superstar’ do neoliberalismo durante a segunda metade da década.
Vista publicamente desde 1997 como uma rancorosa opositora à imagem santa de Diana, Elizabeth II ganha no filme – e na figura estupenda da atriz Helen Mirren (indicada ao Oscar pelo papel) – um pouco de justiça histórica. Seu entendimento do que são os deveres e os limites de um soberano, sua visão de mundo no que se refere a privacidade e símbolos públicos, são bem mostrados em A Rainha.
No longa, a monarca é retratada como uma mulher que tem a consciência do dever de aconselhar, de representar um país coeso e unido, de manter a privacidade, os dogmas e tradições, mas que sabe avaliar o risco de não ser amada por seu povo. Em seu elogiado argumento Peter Morgan foi capaz de dar ao filme uma dimensão profunda do lado humano, dos bastidores do Palácio de Buckingham, das relações que permeiam a vida e os sentimentos de sua alteza, a austera Rainha Elizabeth II.
O filme muito justamente indicado a seis Oscars, incluindo Melhor filme (Andy Harries, Christine Langan e Tracey Seaward), Roteiro Original (Peter Morgan – criador de “The Crown”), Diretor (Stephen Frears), Figurino (Consolata Boyle) e Trilha Sonora Original (Alexandre Desplat).
Por: Vanderlei Tenório