A Polícia Federal (PF) revelou, nesta semana, áudios que indicam o envolvimento do agente Wladmir Matos Soares no vazamento de informações sobre a segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o período de transição governamental. O episódio integra as investigações sobre a trama golpista organizada no governo de Jair Bolsonaro.
As gravações mostram que, em 13 de novembro de 2022, Soares – que integrava a equipe responsável pela segurança externa do hotel onde Lula estava hospedado – repassou informações sigilosas ao militar do Exército Sergio Cordeiro, então lotado na Presidência da República. O vazamento ocorreu um dia após os atentados contra a sede da PF, em Brasília, e poucas horas depois da diplomação de Lula como presidente eleito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No áudio, Soares relata que quatro indivíduos não identificados ingressaram no hotel onde Lula se encontrava, sem fornecer suas identificações. Segundo ele, a equipe de segurança foi acionada após o alerta do gerente do estabelecimento. Posteriormente, o agente informou a Cordeiro que os indivíduos pertenciam ao Comando de Operações Táticas (COT), grupo de elite da PF, que havia sido acionado para reforçar a segurança do presidente eleito após os ataques à PF.
“Irmão, estou aqui na coordenação desse evento de posse. Vim para as fixas [posições] dos hotéis. O gerente ligou e disse que esses caras entraram. Está no nome de Misael essa reserva. Entraram quatro caras que não quiseram se identificar, dizendo ser da Polícia Federal. Eles saíram sem se identificar e eles [hotel] acionaram a gente. A gente fez um levantamento prévio e deu isso aí. Não sei se eles são do GSI [Gabinete de Segurança Institucional], se tem a ver com o nosso governo atual ou se estão trabalhando para outro. Eles estão dizendo que são secretos, disseram que estão em missão secreta e não poderiam dizer. A gente não sabe o que é. Estou por aqui, o que precisar, fala aí”.
“Fala, Cordeiro. Seguinte, o Mizael é do GSI, sim. Ele está à disposição do candidato Luiz Inácio. Como rolou aquela situação no prédio da Polícia Federal ontem, eles acionaram a equipe do COT. Uma equipe do COT, como uma equipe do Lula estaria no prédio do Meliá, uma equipe do COT ficou à disposição próxima, eles hospedaram essa equipe do COT no Windsor. Isso aí foi acertado mesmo. Só para você ter essa informação. Estamos aqui na torcida. Essa p…tem que virar logo. Não dá para continuar desse jeito não”, completou.
A investigação sobre o monitoramento irregular de Lula veio à tona em novembro de 2023, quando Jair Bolsonaro e outros 39 envolvidos na suposta tentativa de golpe foram indiciados pela PF. Nesta semana, os áudios foram divulgados publicamente após o ministro Alexandre de Moraes retirar o sigilo da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF).