A primeira noite de desfiles do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro foi marcada por inovações visuais e enredos de forte carga cultural e religiosa. Elementos como água, fogo, fumaça e efeitos neon dominaram a Marquês de Sapucaí entre a noite de domingo (2) e a madrugada desta segunda-feira (3).
As quatro escolas que abriram os desfiles deram destaque às religiões de matriz africana e afro-indígena, celebrando narrativas ancestrais e a resistência cultural negra no Brasil.
O retorno triunfal da Unidos de Padre Miguel
A Unidos de Padre Miguel, campeã da Série Ouro em 2024, voltou ao Grupo Especial após mais de 50 anos. A escola apresentou o enredo Egbé Iyá Nassô, homenageando uma das fundadoras do Candomblé da Barroquinha, na Bahia.
Um dos destaques foi o Boi Vermelho, símbolo da escola e associado a Xangô, orixá do fogo e da justiça. Emocionada, a iyálorixá Neuza Cruz celebrou a homenagem:
“Foi um presente ancestral que recebemos. Estamos muito felizes.”
Imperatriz Leopoldinense e o mito de Oxalá
A Imperatriz Leopoldinense, campeã de 2023, trouxe o enredo Ómi Tútu ao Olúfon – Água fresca para o senhor de Ifón, abordando a mitológica jornada de Oxalá e sua relação com Exu e Xangô.
A escola apostou em uma estética imponente, destacando a simbologia da água como elemento purificador e de resistência. Ao fim do desfile, a presidente Cátia Drumond comemorou:
“Passamos bem, felizes e dentro do tempo. Agora é esperar a Quarta-feira de Cinzas!”
Unidos do Viradouro exalta Malunguinho
A Unidos do Viradouro, atual campeã do carnaval, levou para a avenida a história de Malunguinho, líder quilombola e figura central na religião da Jurema. O enredo Malunguinho: o Mensageiro de Três Mundos destacou sua influência como Mestre, Caboclo e Exu.
Com efeitos neon, carros alegóricos móveis e uma ala especial dedicada à Nação Jurema, a escola emocionou o público. Duda Almeida, grávida e representando o Fogo da Justiça, celebrou a experiência:
“Sou a terceira geração da minha família a desfilar grávida. Estou muito emocionada!”
Mangueira encerra a noite com a força da cultura bantu
A tradicional Estação Primeira de Mangueira encerrou os desfiles com o enredo À Flor da Terra – No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões, exaltando a influência da cultura bantu no Brasil.
A escola utilizou a água como metáfora da travessia do Atlântico e celebrou a herança musical africana, trazendo um carro alegórico com torres de caixas de som, remetendo ao samba, funk e passinho.
A pequena Ayla, que desfilou na ala infantil, deixou um recado:
“Torçam para a gente ganhar!”
Avaliação e próximos desfiles
As escolas foram avaliadas em nove quesitos, incluindo samba-enredo, bateria e alegorias. Pela primeira vez, os desfiles foram divididos em três noites, com quatro escolas por dia.
Nesta segunda-feira (3), desfilam Unidos da Tijuca, Beija-Flor de Nilópolis, Acadêmicos do Salgueiro e Unidos de Vila Isabel. Na terça-feira (4), será a vez de Mocidade Independente, Paraíso do Tuiuti, Grande Rio e Portela.
O resultado final será divulgado na quarta-feira de Cinzas (5), quando será conhecida a campeã do Carnaval 2025.