Moradores de comunidades ribeirinhas e flutuantes ao longo do Rio Negro, no Amazonas, expressam sentir-se abandonados pelas autoridades locais e estaduais diante da falta de assistência durante a seca. Reclamações incluem a não distribuição de cestas básicas, dificuldades no acesso à água potável e à eletricidade.
Segundo relatos, alguns residentes estão enfrentando dificuldades extremas para obter alimentos, chegando até mesmo a passar fome. Além disso, eles apontam desafios de acessibilidade para deixar suas localidades e buscar recursos nas áreas urbanas da região metropolitana de Manaus, especialmente em relação a cuidados de saúde e alimentação.
“A água é complicada, dia que vem, dia que não vem, entendeu? Está muito difícil essa seca, piorou para todo mundo, nem pescar está dando. Tudo seco, não tem condições. Olha só quantos quilômetros a gente tem que andar para chegar lá na beira do rio, já está quase em Manaus”, afirmou. “Então, para todo mundo ficou muito dificultoso nessa seca aqui, está horrível mesmo, difícil”.
Em regiões como as ilhas do Rio Negro, onde flutuantes estão encalhados, cerca de 80 famílias vivem em condições precárias, sem acesso à água encanada. O comerciante Francisco Aldir Ferreira, de 51 anos, destaca a falta de itens essenciais como água, mercadorias e comida, além das intermitências no fornecimento de energia elétrica.
A vendedora autônoma Onete Moraes, de 31 anos, descreve a complicada situação da água, alternando entre dias em que ela está disponível e dias em que não está. A escassez afeta não apenas a alimentação, mas também a capacidade de pescar para subsistência. Em resposta, alguns moradores iniciaram uma ocupação em área seca, buscando pressionar a prefeitura a construir moradias para os habitantes de flutuantes.
“Tá muito difícil trazer as coisas de lá [Manaus]. Gastamos muito para chegar aqui. Eu vendia minha refeição a R$ 10,00 e aumentei R$ 2,00, o pessoal até reclamou, mas aleguei que é preciso entender que, agora, estamos gastando muito para chegar aqui. Lá [em Manaus] eu pego o carro para descer a Marina, R$ 40,00. Aí eu pago o pessoal para carregar, vão mais R$ 30,00. Aqui, pego um mototáxi, são R$ 10,00 a cada viagem. Gastamos muito para chegar”, disse.
Na região de Tarumã-mirim, em Manaus, as comunidades rurais também enfrentam desafios, incluindo problemas de deslocamento e a falta de cestas básicas. A comunidade Nossa Senhora De Fátima, composta por cerca de duas mil pessoas, recebeu apenas uma entrega de cestas básicas no início de outubro, segundo o vice-presidente da Associação dos Moradores, Lázaro Furtado de Santos, de 65 anos.
Diante dessa situação crítica, os moradores aguardam a conclusão de uma estrada asfaltada que ligaria a comunidade à zona urbana de Manaus. Enquanto isso, utilizam estradas de terra, enfrentando custos adicionais de transporte durante a seca. A prefeitura de Manaus afirma ter fornecido ajuda humanitária, incluindo cestas básicas, água potável e kits de higiene, mas os moradores insistem que a assistência ainda é insuficiente diante dos desafios enfrentados durante a seca.