A Amazônia enfrentou, em 2024, o maior número de queimadas e incêndios florestais em 17 anos. Dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam 137.538 focos de calor até dezembro, superando em 43% os registros de 2023, quando ocorreram 98.646 focos. O Pará, principal estado amazônico, lidera o ranking, com 54.561 focos de calor, especialmente nas regiões de São Félix do Xingu, Altamira e Novo Progresso.
O período mais crítico foi entre julho e novembro, quando os focos ultrapassaram a média histórica, com destaque para setembro, que registrou 41.463 focos — 28% acima da média para o mês. A situação se agrava devido ao desmatamento ilegal e às condições climáticas extremas, com estiagens prolongadas e altas temperaturas.
Impactos no Pará e na Qualidade do Ar

O estado do Pará viveu momentos críticos, com densa fumaça cobrindo cidades como Santarém, onde foi decretada situação de emergência ambiental. Em novembro, a qualidade do ar em Santarém ultrapassou em 42,8 vezes o limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, mais de 6.200 atendimentos relacionados a problemas respiratórios foram registrados entre setembro e novembro.
Francisco Sakaguchi, agricultor de Tomé-Açu, relatou perdas significativas na região: “Nunca vi meu lago secar ou o açaizeiro morrer pela seca. Este ano, chegamos a ter 150 dias sem chuvas, com umidade relativa abaixo de 50% — algo inédito aqui.”
Combate às Queimadas e Atuação das Brigadas
O combate às queimadas no Pará mobilizou equipes estaduais e federais. A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) reforçou o efetivo com 40 bombeiros adicionais, totalizando 120 profissionais, além de helicópteros e viaturas. No entanto, a secretaria destacou que 70% do território paraense está sob jurisdição federal, exigindo maior articulação entre os governos.
Brigadistas voluntários, como Daniel Gutierrez, do distrito de Alter do Chão, têm enfrentado cenários cada vez mais desafiadores. “A fumaça foi muito pior este ano. Nunca tinha visto algo assim em dez anos aqui”, afirmou Gutierrez, que também destacou a necessidade de aprimorar as investigações, dado que a maioria dos focos é causada por ação humana.
Condições Climáticas e Uso Controlado do Fogo

Alexandre Tetto, engenheiro florestal da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que as condições climáticas de 2024 contribuíram para a propagação do fogo. “Altas temperaturas, baixa umidade, estiagens prolongadas e ventos fortes criam um cenário ideal para os incêndios.”
Embora o fogo seja utilizado de forma controlada para manejo agrícola, ele também é frequentemente empregado de forma ilegal para desmatamento. Tetto ressalta que o impacto na Amazônia é maior devido à fragilidade do bioma, que não possui adaptações naturais ao fogo, ao contrário do Cerrado.
Respostas do Governo
O governo federal mobilizou 1.700 profissionais, 11 aeronaves e mais de 300 viaturas no combate aos incêndios em 2024. Em setembro, uma medida provisória destinou R$ 514 milhões para ações emergenciais. Além disso, políticas como a instalação do Comitê Nacional de Manejo Integrado do Fogo e o pacto com governadores visam reduzir o desmatamento e melhorar o monitoramento.
Apesar dos esforços, os desafios permanecem. A situação de 2024 serve como alerta para a urgência de medidas mais rigorosas e integradas no combate ao desmatamento e às queimadas, fundamentais para preservar a Amazônia e mitigar seus impactos socioambientais.