Diante da iminente entrada em vigor de novas tarifas de importação anunciadas pelo ex-presidente Donald Trump, consumidores em diversas partes dos Estados Unidos estão correndo aos supermercados para estocar itens essenciais. A medida, que deve começar a valer nesta quarta-feira (8), reacendeu temores de inflação, recessão e até desabastecimento, especialmente entre os mais cautelosos.
Thomas Jennings, 53 anos, empurrava seu carrinho lotado em um Walmart Supercenter em Nova Jersey. “Estou dobrando a quantidade de tudo: feijão, enlatados, farinha. Tudo que posso”, afirmou. Horas antes, ele havia passado na rede atacadista Costco para comprar açúcar, farinha e água em grande volume. “Estou me preparando para o pior. Uma recessão está a caminho.”
A preocupação de Jennings ecoa em milhares de consumidores. Segundo a Tax Foundation, entidade apartidária de pesquisa fiscal, os novos encargos tarifários podem custar aos americanos US$ 3,1 trilhões em dez anos — o equivalente a um aumento de até US$ 2.100 por família somente em 2025.
Lembrança da pandemia e medo de escassez
Especialistas alertam que o comportamento de estocagem lembra o início da pandemia de Covid-19, quando prateleiras vazias e inflação marcaram os supermercados em todo o país. “As tarifas despertaram temores antigos”, disse Manish Kapoor, especialista em cadeia de suprimentos da GCG, na Califórnia. “Ainda não chegamos ao pânico generalizado, mas o alerta está ligado.”
Enquanto Walmart e Costco não comentaram oficialmente sobre o aumento na procura, consumidores seguem enchendo carrinhos e porões. O aposentado Angelo Barrio, 55 anos, começou a reforçar seu estoque doméstico desde novembro. Em sua última ida às lojas, comprou mais azeite de oliva — agora são 20 garrafas em casa —, além de arroz, pasta de dente e sabonete. “Você nunca sabe o quanto vai precisar”, disse.
Idosos e renda fixa sentem o impacto
Para Maggie Collins, cuidadora de idosos com mais de 60 anos, a situação é ainda mais delicada. “Tenho uma renda fixa. Cada centavo conta”, contou, enquanto abastecia o carrinho com itens de higiene e preferia marcas mais baratas. “Só neste mês, paguei o dobro pela carne que costumo cozinhar para meus netos.”
Collins teme o impacto das tarifas na vida dos mais velhos e questiona como os mais jovens vão lidar com um cenário econômico cada vez mais desafiador. “Eles estão apenas começando suas vidas, e o mundo já está tão difícil de sobreviver.”
A nova rodada de tarifas imposta por Trump, que ameaça sobretaxar produtos chineses em até 50% caso Pequim não recue de medidas retaliatórias, já está gerando impactos antes mesmo de ser implementada. E para muitos consumidores americanos, o reflexo direto será no bolso — e, possivelmente, nas prateleiras.