As apostas esportivas em plataformas online, conhecidas como bets, estão causando um impacto significativo no orçamento das famílias das classes D e E no Brasil, desviando recursos que antes eram destinados a setores essenciais como alimentação, lazer e produtos pessoais. Essa tendência, que se intensificou desde a aprovação da Lei nº 13.756 em 2018, já preocupa economistas e especialistas.
De acordo com Gerson Charchat, economista e advogado da PwC Strategy& do Brasil, os gastos com apostas superaram outras despesas discricionárias e começaram a afetar até mesmo o orçamento destinado à alimentação. Entre 2018 e 2023, o percentual do orçamento familiar das classes D e E destinado às bets aumentou de 0,27% para 1,98%, enquanto os gastos com lazer e cultura diminuíram. Essa redistribuição de gastos compromete a percepção de melhoria da economia e pode aumentar o endividamento, especialmente entre os jovens.
Ione Amorim, economista do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), destaca que o problema é agravado pela falta de educação financeira e pela vulnerabilidade social. Segundo ela, as apostas atraem pessoas em situação de dificuldade financeira, oferecendo uma promessa de ganho fácil que, na realidade, resulta em perdas significativas. Além disso, Amorim alerta para os efeitos negativos na saúde mental e no aumento do endividamento, que podem levar a problemas mais graves, como suicídio e dependência de álcool e drogas.
A aprovação do Projeto de Lei nº 2.234/2022, que visa expandir a exploração de jogos de azar no Brasil, é vista com preocupação por especialistas, que apontam para os potenciais impactos econômicos, sociais e de saúde pública. Embora a legalização dos jogos seja defendida por sua capacidade de gerar emprego e tributos, ainda não foram considerados os custos adicionais que podem surgir, como o aumento das despesas com segurança pública e atendimento à saúde mental.