O prolongamento da ofensiva israelense em Gaza levanta preocupações entre especialistas, que alertam para o risco iminente de radicalização da população palestina e o fortalecimento do terrorismo na região. As declarações do chefe do Estado-Maior israelense, Herzi Halevi, indicando que “a guerra continuará por muitos meses”, aumentam a apreensão sobre os desdobramentos futuros.
Desde o início dos ataques israelenses em resposta aos atentados do Hamas em 7 de outubro, os números de vítimas impressionam. De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, mais de 20,6 mil pessoas perderam a vida, e 54,5 mil ficaram feridas, resultando em condições humanas catastróficas, conforme alerta da ONU. Quase toda a população de 2,8 milhões de habitantes de Gaza está deslocada.
O professor Michel Gherman, do Centro de Estudos do Antissemitismo da Universidade de Jerusalém, destaca quatro fatores cruciais que podem influenciar os rumos da ofensiva. Entre eles, destaca-se a situação interna em Israel, onde a permanência do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu no poder parece depender de um discurso pró-guerra, alimentado pelos eventos de 7 de outubro.
Outro ponto de atenção é o possível envolvimento de grupos armados regionais, como o Hezbollah e os houthis apoiados pelo Irã. O recente conflito entre Irã e Israel adiciona uma dimensão regional à crise, levando a incertezas sobre os desdobramentos.
No cenário americano, a postura do presidente Joe Biden emerge como um fator crucial. Com eleições em 2024, a pressão para moderar a ofensiva aumenta, refletindo a prioridade de questões internas sobre um conflito no Oriente Médio.
Internamente no Hamas, divergências sobre os rumos da ofensiva criam um cenário complexo. Enquanto membros em Gaza optam pela continuação da guerra, exilados em países como o Catar buscam soluções negociadas visando uma participação futura no governo de Gaza.
O primeiro-ministro Netanyahu reitera pré-requisitos para a paz em um artigo recente, destacando a destruição do Hamas, desmilitarização de Gaza e desradicalização da sociedade palestina. No entanto, especialistas como Michel Gherman argumentam que o prolongamento da ofensiva apenas intensifica a radicalização em ambos os lados, enfatizando a necessidade de soluções políticas.
O professor de relações internacionais Vitelio Brustolin ressalta a estratégia planejada do Hamas, buscando uma ação contundente de Israel para fortalecer sua causa terrorista. Ele diferencia os objetivos do Hamas da causa palestina, destacando a busca por uma solução de dois estados durante as negociações de Oslo.
Enquanto as negociações e pressões internacionais buscam encerrar a ofensiva, a incerteza predomina. O prolongamento do conflito parece provável, desafiando esforços de paz e intensificando as tensões na região.