As artistas Ana Bia Novais e Pietra Canle, da Zona Norte Carioca e da Baixada Fluminense, foram selecionadas para representar o Brasil na exposição Brincar Entre Atlânticos, com curadoria do Instituto Lambes Brasil, no evento conhecido como Something Else, que acontece durante fevereiro e março, na cidade do Cairo, no Egito.
O tema geral da exposição de 2025 é “Emancipate yourselves from mental slavery” (em tradução livre, “Emancipem-se da escravidão mental”), baseado em um trecho da música do cantor e compositor jamaicano Bob Marley. A partir desse universo, a plataforma Lambes Brasil, criou um corpo de pesquisa e curadoria para selecionar artistas sob a perspectiva do conceito do “Brincar”, onde se encaixam as obras Concentração na Mangueira, de Ana e Menino da Bike, de Pietra.

“A fotografia que apresento homenageia os trabalhadores que constroem o Carnaval com suas próprias mãos. É uma honra representar um dos patrimônios da Cultura do Rio de Janeiro no continente Africano”, diz Ana Bia. Para Pietra, o importante é “levar a arte de rua, que é muito marginalizada – principalmente por ser uma arte majoritariamente negra – pra um lugar como o Egito. É também realizar uma homenagem à nossa ancestralidade” diz.
A curadoria, feita pelo Instituto Lambes Brasil, criado para a disseminação e fomento da técnica do lambe-lambe, também focou em artistas já reconhecidos nacionalmente e que usam o cartaz e a arte urbana como técnica. Com isso, mergulha nas múltiplas camadas do brincar, propondo um entrelaçamento entre as possibilidades da brincadeira, ora enquanto uma ação objetiva, ora reflexiva e imersa nas subjetividades de uma vasta, complexa e continental cultura brasileira.
Dividida em quatro eixos temáticos essenciais, a curadoria revela o poder transformador da imaginação e da criação; a magia e o ritual da fantasia, da veste e da possibilidade de assumir personagens; a arte da gambiarra, do manipular, do reeditar e dar vida aos brinquedos e bugigangas que povoam nosso imaginário; e, por fim, dos rituais e celebrações que permeiam as práticas lúdicas enquanto um ato e performance.
“Nessa proposta, vislumbramos desde artistas que trabalham com assuntos comuns do brincar, como pipas, até artistas que usam objetos e engenhocas na aplicação do lambe-lambe”, conta Mila Serejo.
Produzidos em tamanhos variados, os lambes, também conhecidos como cartazes urbanos, podem ter formas e técnicas variadas e agora, ocupam espaços na capital do Egito.
Nesta exposição, a linguagem que é democrática por usar em sua essência apenas papel e cola, deve surgir com diferentes materiais, é o que explica Alberto Pereira. “Além de impressões gráficas, também trouxemos uma variação de artistas que produzem manualmente suas obras, seja com tinta e caneta ou até com bordados”, explica.
As artistas
Ana Bia Novais é cria da Zona Norte, formada em Comunicação Social e pós-graduanda em Linguagens Artísticas, Cultura e Educação no IFRJ. Fotógrafa, artista visual e educadora popular, se utiliza de signos e corpos periféricos para produzir seus trabalhos em fotografia, bordado e lambe lambe.
Vencedora do Prêmio Inspirar 2023 pela atuação com o “Lambe das Manas”, projeto de arte urbana e fotografia idealizado por ela e voltado para pessoas LBT+ moradoras de periferias do Rio e/ou racializadas, também compõe o acervo de Fotografia Popular “Imagens do Povo” e participou de exposições no MAR – Museu de Arte do Rio, Galpão Bela Maré, MAC Niterói, Paço Imperial, entre outros.
Pietra Canle tem 26 anos e é cria de Nova Iguaçu. Artista plástica e de rua, atriz e arte-educadora, é formada pela Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna. Foi ganhadora do 29° Prêmio Shell, na categoria Inovação, com o coletivo Rede Baixada em Cena e do 11° FESTU.
É também co-fundadora do primeiro Coletivo de Lambe e Educação Popular da Baixada Fluminense: o BXDLambe; atualmente é Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares pela UFRRJ, com ênfase em Educação Étnico-racial e de gênero: linguagens e estudos afro-diaspóricos. Sua pesquisa está voltada para a arte de rua como ferramenta na criação identitária de crianças e jovens negros da Baixada Fluminense. Já expôs seu trabalho em lugares como CCSP, Centro Cultural Lado B, Sesc, dentre outros.
O Instituto Lambes Brasil
A Lambes Brasil é um canal criado em 2016, com o intuito de fomentar e valorizar o lambe-lambe no contexto das artes visuais brasileiras.
Através de parcerias e iniciativas independentes, busca fortalecer o cenário aos artistas e produtores, gerando reconhecimento da técnica e prática artística perante o público, órgãos governamentais, empresas, instituições culturais, demais artistas e linguagens artísticas.