Com um enredo que relembra a independência da Bahia em 1823, a Beija-Flor de Nilópolis foi a penúltima escola a desfilar no último dia de carnaval no Rio de Janeiro. O tema escolhido para o desfile foi “Brava gente, o grito dos excluídos no bicentenário da independência”, que abordou a luta de diversos grupos marginalizados, incluindo indígenas, mulheres e a comunidade LGBTQIA+.
Além da independência da Bahia, a escola vice-campeã do Carnaval do Rio em 2020 abordou temas como o feminismo, a luta contra o racismo e a homofobia, além da batalha pela demarcação das terras indígenas e críticas à república militarizada.
Antes de entrar na Avenida, a Beija-Flor de Nilópolis enfrentou um contratempo na concentração: parte do seu carro abre-alas foi atingida por um incêndio e o destaque Edson Assis teve que ser resgatado pelos bombeiros. Felizmente, não houve feridos e ele conseguiu retornar ao desfile posteriormente.
Na busca pelo seu 15º título, a Beija-Flor desfilou com 23 alas, seis carros alegóricos e três tripés, além dos 3,5 mil integrantes. Durante a apresentação, a cantora Ludmilla participou como convidada e acompanhou Neguinho da Beija-Flor e os outros intérpretes nos microfones.
A Beija-Flor iniciou seu desfile com a comissão de frente intitulada “Onde o povo fez história e a escola não contou”, que buscou apresentar uma nova versão para o Dia da Independência, diferente da que geralmente é ensinada nas escolas. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, formado por Claudinho e Selminha Sorriso, representou o caboclo, figura central das festividades do 2 de julho na Bahia.
O carro seguinte, intitulado “A luta contra a coroa”, retratou a resistência baiana contra a dominação portuguesa, com destaque para as mulheres negras guerreiras que lutaram pela liberdade. Na sequência, a escola destacou a importância das religiões de matriz africana e das manifestações culturais populares na construção da identidade baiana.
Um dos pontos altos do desfile foi o carro “Revolta dos Búzios”, que homenageou a luta liderada pelo mulato João de Deus em 1798, considerada uma das primeiras rebeliões populares do Brasil. O carro destacou a figura de mulheres como Maria Felipa, que comandou um grupo de guerreiras na luta contra os portugueses.
Outro destaque foi a ala “Mulheres Negras”, que trouxe a luta contra o racismo e o machismo, e a ala “Guerreiros da Liberdade”, que celebrou a luta dos povos indígenas e quilombolas pela demarcação de suas terras.
No final do desfile, a escola fez uma homenagem ao escritor baiano Jorge Amado e à sua obra, destacando personagens como Gabriela, Cravo e Canela e Tieta do Agreste. A alegoria final, intitulada “Baianidade Nagô”, trouxe um grande cortejo de orixás e exaltou a diversidade e riqueza cultural da Bahia.
No terceiro carro, “Nas asas da Beija-Flor, a revoada dos imortais”, a escola homenageou personalidades importantes na luta contra as opressões. Entre elas, estavam Marielle Franco, Milton Santos, Lélia González e Abdias do Nascimento. A alegoria contou com a presença de artistas como o ator Érico Brás e a cantora Ana Carolina.
Levantes populares
Parte das alas da Beija-Flor homenageou os levantes populares, como os botocudos com a ala “Ode aos Botocudos”, os Malês com a ala “Sonho de Liberdade Malê”, a cabanagem com “Orgulho cabano e identidade amazônica”, os quilombolas com “Um grito de liberdade quilombola” e a Balaiada com “Ala das baianas do balaio vem a revolução”.
As cinco alas da Beija-Flor criticaram a república militarizada, o coronelismo e o voto de cabresto, a falta de oportunidades para negros após a abolição da escravatura, as teorias da “ameaça comunista” e o regime militar. A ala intitulada “Cota para branco” apontou a política discriminatória que privilegiou trabalhadores brancos europeus. Já a “Ameaça vermelha – fantasma do comunismo” fez referência às teorias conspiratórias que foram utilizadas para justificar repressão política no Brasil. O penúltimo carro, “Chumbo da autocracia”, abordou a ditadura militar como um período sombrio da história brasileira.
Cinco das alas da Beija-Flor de Nilópolis apresentaram críticas sociais e políticas em relação à história do Brasil. Entre as questões abordadas, estavam a república militarizada (“República da espada e do coturno”), o coronelismo e o voto de cabresto, a falta de oportunidades para os negros após a abolição, que favoreceu trabalhadores brancos europeus (“Ala Cota para branco”), as teorias da “ameaça comunista” (“Ala Ameaça vermelha – fantasma do comunismo”) e o regime militar. O penúltimo carro, “Chumbo da autocracia”, denunciou os horrores da ditadura militar que assolou o país por mais de duas décadas.
pós as críticas às desigualdades e opressões históricas, chegou a vez das alas que trouxeram à tona questões atuais e urgentes, como a luta pela proteção das terras indígenas, a luta contra o racismo, a mobilização dos movimentos operários e a luta contra a fome. Além disso, foram destacados temas importantes como o feminismo e os direitos LGBTQIA+. Encerrando o desfile, a escola apresentou os carros “Por um novo nascimento”, que propõem uma nova bandeira para o país, e o tripé “O amanhã não está à venda”, acompanhados pela ala “O cordão dos excluídos e outros Brasis”.