No calendário católico, a quarta-feira de cinzas marca o início da Quaresma, um período de reflexão e abstinência. Embora o carnaval tenha raízes pagãs, ao longo do século passado, havia uma certa sincronia com o calendário religioso: a festa começava no sábado e terminava na terça-feira, deixando a quarta-feira como um dia de descanso e recuperação para muitos foliões.
“Meu carnaval começou hoje. Eu estava com covid-19. Tive alta na segunda-feira, mas só tive energia para vir hoje. Para mim, é ‘me ressuscita na quarta'”, disse a professora universitária Lenise Fernandes.
Contudo, nos últimos anos, surgiram opções para estender a folia além da terça-feira em várias cidades. O tradicional bloco “Me Enterra na Quarta” é uma dessas iniciativas no Rio de Janeiro. Em suas redes sociais, o público é convidado a “encerrar o carnaval com chave de ouro”, ao som de marchinhas, maracatus, sambas, axés e forrós.
Apesar do convite para encerrar a festa, muitos foliões não estão prontos para dar adeus ao carnaval. O médico Nicolás Cuan, de nacionalidade mexicana e alemã, que realizou um intercâmbio acadêmico no Brasil, é um exemplo disso. “Carnaval no Rio? Dura quatro meses. Não vamos enterrar o carnaval hoje. Impossível. Podemos fazer uma pausa amanhã. Depois continuamos”, declara.
Ele voltou ao Brasil especificamente para celebrar o carnaval, aproveitando para escapar do inverno europeu. Nesta edição, o bloco “Me Enterra na Quarta” desfilou pela primeira vez nos arredores da Praça Paris, no centro do Rio de Janeiro, após anos percorrendo as ladeiras de Santa Teresa. A mudança foi anunciada e justificada nas redes sociais do bloco.
“O motivo da decisão para a mudança foi, em primeiro lugar, a segurança dos foliões. As estreitas ladeiras já não comportavam mais a maravilhosa multidão que nos acompanha. Em segundo, o tamanho da nossa banda. Com mais de 150 integrantes, para conseguirmos manter a unidade do som, precisamos de um local mais amplo. O lugar escolhido não podia ser melhor. O arco de árvores centenárias, o enorme jardim da Praça Paris, as três pistas fechadas que possibilitarão, pela primeira vez, termos uma ala destinada às pessoas com deficiência, crianças e idosos”, iinformou o bloco.