A campanha “Natal no Beiradão” está em curso mais uma vez este ano, liderada pelo Conselho Ribeirinho do Xingu e pela Associação Ribeirinha da Comunidade do Goianinho, com o respaldo do Ministério Público Federal (MPF). O objetivo é proporcionar melhores condições de vida às famílias ribeirinhas que enfrentam desafios decorrentes da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, situada no Rio Xingu, no Pará.
Raimundo da Cruz e Silva, vinculado à associação, destaca que as famílias, anteriormente abastadas pela pesca na região, agora enfrentam carências até mesmo de itens essenciais, como material escolar, roupas e calçados para as crianças frequentarem a escola, além de cestas básicas.
Apesar de a Norte Energia, responsável pela usina, a classificar como “a maior hidrelétrica 100% brasileira”, Belo Monte tem sido objeto de controvérsias devido aos seus impactos socioambientais. A linha do tempo no site da empresa destaca que, em fevereiro de 2010, o Ibama concedeu a licença prévia, com 40 ajustes exigidos. As obras iniciaram-se em junho de 2015, e o ISA publicou o relatório “Dossiê Belo Monte: Não há condições para a Licença de Operação” em 2015, detalhando os efeitos nas comunidades locais.
O MPF relata que, há oito anos, aproximadamente 9 mil pessoas foram deslocadas de suas casas nas margens do Rio Xingu para o enchimento do reservatório da usina e ainda não puderam retornar. Algumas reassumiram seus antigos locais, enquanto outras aguardam na periferia de Altamira pela possibilidade de retorno.
Josefa Camara, representante do Conselho Ribeirinho do Xingu, destaca disparidades nas indenizações recebidas pelas famílias, mencionando critérios que favoreciam estruturas de alvenaria em detrimento de casas de palha. Raimundo da Cruz e Silva complementa, afirmando que muitos ribeirinhos dependem de benefícios governamentais para manterem suas residências.
A violência, segundo ele, não se restringe mais apenas à entrada de muitas pessoas na região, mas agora inclui uma “onda de violência” e a escassez de alimentos, configurando o legado de Belo Monte como uma fonte de problemas ao invés de desenvolvimento. O líder comunitário ressalta que as doações da campanha de Natal, embora bem-vindas, representam apenas uma ajuda pontual diante das dificuldades enfrentadas por essas famílias ao longo do ano.