Pelo terceiro ano consecutivo, o boi Caprichoso sagrou-se campeão do Festival de Parintins, evento considerado patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Na apuração realizada no Bumbódromo, o Caprichoso liderou com as notas da primeira noite de apresentações, empatou com o boi Garantido na segunda noite, mas assegurou a vitória com 1.259,3 pontos após a apuração das notas da terceira noite.
O boi Garantido, que não vence desde 2019, terminou a competição com 1.259,2 pontos, apenas um décimo atrás do campeão. O festival não foi realizado em 2020 e 2021 devido à pandemia de covid-19.
O evento, que celebra a tradição cultural do Boi-Bumbá, gira em torno de uma lenda sobre a ressurreição do boi. O Caprichoso, cuja cor principal é o azul, também adota tons claros de azul, verde escuro, verde mar, violeta, roxo e lilás. Em seu Curral Zeca Xibelão, as cores do concorrente não são permitidas. O Garantido, por sua vez, tem o vermelho como cor principal e utiliza tons avermelhados claros, laranja, rosa claro e escuro, rosé e terracota. No Curral Lindolfo Monteverde, as cores do rival são vetadas. As baterias também diferem: a batucada no Garantido e a marujada no Caprichoso.
O tema do Caprichoso deste ano foi “Cultura – O Triunfo do Povo”. Segundo o presidente do Caprichoso, Rossy Amoedo, o tema é baseado na narrativa da vitória da cultura popular. “No princípio, as deusas e deuses criaram Parintins, território sagrado de encantarias e mistérios. Suas gentes, expressão divina da criação, passaram a ser dotadas de saberes e fazeres específicos, um talento cuja vocação se faz presente em cada gesto e em cada canto, em cada palavra e sorriso, um brado de luta e emancipação”, explicou.
O Garantido abordou o tema “Segredos do Coração”, que trata de origem e ancestralidade. O presidente Fred Góes afirmou que o boi vermelho quis mostrar a Amazônia como ela é e como surgiu, contada a partir do mito do povo indígena Sateré-Mawé. “Esse mito nos remete à Amazônia intacta, sendo ainda a floresta, os animais e os habitantes chegando. É essa Amazônia que queremos mostrar, que está sendo degradada. Por que a gente quer mostrar essa origem? Ela está no mito Sateré-Mawé e também está na história geológica da Amazônia. É um mito simples, mas os Sateré-Mawé dizem que aqueles que estão nos nossos olhos, temos que ter cuidado. É um segredo que deixamos de olhar com mais carinho. É esse carinho que estamos pedindo para que a gente tenha um olhar com essa Amazônia”, relatou.
O secretário de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, Marcos Apolo Muniz, ressaltou que o festival é uma celebração da identidade do povo amazônida. “Aqui não é só a festa pela festa, estamos falando de representatividade da cultura do amazonense, do amazônida, da Amazônia, de geração de emprego e renda, de oportunidades, de economia aquecida, de promoção do estado. É um festival que, como se diz popularmente, rende o ano todo”, destacou.