A disseminação de desinformação no Brasil está atingindo um novo patamar, impulsionada por conteúdos e notícias falsas em áreas como saúde, educação e costumes. Teorias conspiratórias estão se espalhando pelas redes sociais neste primeiro trimestre de 2024, trazendo informações enganosas sobre vacinas, dengue, aborto, escola sem partido, doutrinação de esquerda, cultura LGBT e erotização, observam pesquisadores.
Segundo a jornalista e pesquisadora Magali Cunha, do Instituto de Estudos da Religião (Iser), no Rio de Janeiro, anos eleitorais são períodos em que a propagação de fake news se intensifica.
“Os anos de 2018, 2020 e 2022 foram marcados por intensa desinformação nos ambientes digitais. Desde outubro do ano passado, temos observado um aumento significativo na intensidade e quantidade de notícias falsas”, constata Magali. Estamos, de fato, imersos em uma verdadeira guerra digital.
Além disso, há um ataque sistemático à mídia tradicional. Solano de Camargo, presidente da Comissão de Privacidade, Proteção de Dados e Inteligência Artificial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB SP), destaca que a credibilidade dos jornais, rádios, emissoras de televisão e jornalistas está sendo minada.
Grupos conservadores e de extrema direita estão ganhando eficácia nessa guerra de informações pelas redes sociais. Em relação à saúde, por exemplo, a disseminação de ideias-chave pelas redes sociais está criando pânico verbal e se tornando cada vez mais presente.
Eliara Santana, pesquisadora associada do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da Universidade Estadual de Campinas (CLE/Unicamp), destaca que houve um recuo temporário na disseminação de fake news no final de 2022, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República. No entanto, ao longo de 2023, essa tendência retornou com força total.
A manipulação da opinião pública através da desinformação, conforme recorda Solano de Camargo, ficou evidente no processo de consulta da população do Reino Unido sobre a saída da União Europeia em 2020 e vem se aperfeiçoando cada vez mais, principalmente agora com o uso de inteligência artificial.
É crucial entender que esse ecossistema de desinformação se retroalimenta em um circuito onde as fake news ganham espaço e credibilidade. Começa com memes virais que são replicados por veículos de imprensa, seguido por políticos que legitimam essas informações e, por fim, são disseminados em grupos de WhatsApp e redes sociais, criando uma bolha informacional.
Para combater essa onda de desinformação, é essencial promover o letramento digital e a educação midiática. Apenas com o fortalecimento da capacidade crítica dos cidadãos é possível resistir aos efeitos prejudiciais da disseminação de fake news e proteger a integridade do debate público e democrático.