A 28ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP28, prolongou-se pela noite adentro, e o horário previsto para a conclusão passou sem qualquer acordo à vista. No centro da discórdia estão os combustíveis fósseis, pois o esboço do documento final não menciona a sua eliminação gradual. O diretor-geral da COP28 afirmou que a conferência está a trabalhar num novo esboço de acordo, reiterando que o objetivo é “alcançar o resultado mais ambicioso possível”.
O objetivo era que, até as 11h desta terça-feira (hora local), se alcançasse uma “conclusão ordenada do encontro”, mas essa hora chegou sem qualquer acordo.
Os Estados-membros da União Europeia (UE), os Estados Unidos (EUA) e muitos países insulares estão em desacordo com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e a Arábia Saudita em relação à eliminação gradual dos combustíveis fósseis.
O último rascunho do documento final, apresentado nesta segunda-feira no Dubai, não menciona a eliminação gradual dos combustíveis fósseis. Em vez disso, o documento sugere que as nações devem “reduzir o consumo e a produção de combustíveis fósseis de forma justa, ordenada e equitativa”. Em essência, o documento de 21 páginas concederia total liberdade aos países signatários do Acordo de Paris para escolherem sua forma de “reduzir” os combustíveis fósseis, sem obrigações.
A UE considerou o documento “inaceitável”, e os países insulares asseguraram que não irão assinar sua “certidão de óbito”.
Vários representantes de países presentes em Dubai criticaram a falta de ambição no texto final.
“Há um grupo grande, muito grande de países, mesmo uma supermaioria, que quer mais ambição”, disse o comissário europeu para o Clima, Wopke Hoekstra.
O texto é “inaceitável” e “muito abaixo da ambição necessária para manter as nossas ilhas acima da superfície da água”, denunciou Joseph Sikulu, responsável pelo Pacífico da organização não governamental (ONG) 350.org.
“É um insulto para aqueles que vieram aqui lutar pela nossa sobrevivência”, acrescentou. À procura do “resultado mais ambicioso possível”.
O presidente da COP28, Majid Al Suwaidi, revelou que a cúpula está a trabalhar numa nova versão do texto do acordo, baseada nas “linhas vermelhas” expressas pelos países que rejeitaram a primeira proposta.
“Passamos a última noite discutindo e recebendo feedback e isso nos colocou numa posição para redigir novo texto, que inclua todos os elementos de que precisamos para um plano compreensivo até 2030”, afirmou Al Suwaidi.
“O texto que divulgamos foi um ponto de partida para a discussão. É completamente normal para um processo baseado na necessidade de consenso. Sabíamos que as opiniões eram polarizadas, mas não sabíamos quais eram as linhas vermelhas dos países”, afirmou.
“O objetivo é chegar a um consenso”, disse Al Suwaidi aos jornalistas em entrevista. “Todos gostaríamos de terminar a tempo, mas queremos alcançar o resultado mais ambicioso possível. Esse é o nosso único objetivo”, garantiu.
O diretor-geral da COP28 disse que os delegados querem incluir neste novo esboço uma menção “histórica” sobre o futuro dos combustíveis fósseis.
“Nesta COP tentamos fazer algo que nunca foi feito antes, algo histórico. Parte disso é incluir os combustíveis fósseis no texto. Se pudermos, isso seria histórico”, afirmou Al Suwaidi.
Outro compromisso menos controverso presente no documento final consiste em triplicar a capacidade de energia renovável até 2030.
As empresas consideram o compromisso “realista”, mas lembram que não é fácil. “É realista, mas há elementos que precisam ser resolvidos, como licenças, arrendamentos, conexões à rede”, disse Anders Opedal, presidente executivo da norueguesa Equinor, uma importante empresa de energia renovável, à Reuters.