O ano de 2025 começou com chuvas intensas nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil e estiagem no Nordeste, evidenciando cada vez mais os efeitos das mudanças climáticas. Essa crise, além de gerar impactos ambientais, agrava desigualdades e impõe novos desafios globais.
A urgência em enfrentar a crise climática e buscar soluções é tema central da 30ª Conferência sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada no Brasil. Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, Mercedes Bustamante, pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) e colaboradora do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, reforça que a crise climática é uma amplificadora de outras crises.
“Ela contribui para o agravamento de problemas já existentes, como desigualdade, fome, escassez de recursos hídricos, migrações humanas e conflitos geopolíticos”, afirma a especialista. Bustamante também aponta que trabalhar nas causas do aquecimento global é a ação mais urgente.
A importância de acordos climáticos globais
Segundo Bustamante, acordos internacionais, como o Acordo de Paris – firmado na COP21 em 2015 – são essenciais para combater a crise climática. O principal objetivo do acordo é limitar o aquecimento global a menos de 2°C até o final do século, com esforços para restringi-lo a 1,5°C.
“Não adianta o Brasil reduzir suas emissões de gases do efeito estufa se outros países não fizerem o mesmo. É necessário um esforço coletivo”, explica. Para ela, o enfrentamento à crise também depende de transições energéticas rápidas e sérias, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e investindo em fontes de energia renováveis.
Impactos sobre as cidades e soluções necessárias
A urbanização desordenada torna as cidades brasileiras particularmente vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas. Mercedes destaca que é urgente priorizar a salvação de vidas e retirar populações de áreas de risco. “Eventos de chuvas extremas têm sido recorrentes desde 2011. A reconstrução das cidades afetadas precisa ser feita de forma planejada, talvez em novos locais”, afirma.
Além disso, ela enfatiza a importância de medidas voltadas à conservação ambiental. “O Brasil tem uma oportunidade única de mitigar as emissões de gases de efeito estufa e promover a recuperação de áreas verdes. Isso não é apenas uma questão de adaptação, mas também uma solução para o sequestro de carbono”.
Papel do setor financeiro e da política global
Bustamante também ressalta o papel crucial do setor financeiro no enfrentamento à crise climática. “Com a concentração de recursos em poucas mãos, é fundamental que o setor privado apoie iniciativas de adaptação e mitigção. A atmosfera é um bem comum global, e todos dependem dela”.
Sobre a política climática internacional, ela comenta que decisões unilaterais, como a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris durante o governo Trump, impactam negativamente os esforços globais. No entanto, iniciativas privadas e avanços tecnológicos podem ajudar a manter o progresso.
Senso de urgência
Mercedes Bustamante conclui destacando que o tempo é um fator crítico. “Se tínhamos começado a agir há 30 anos, estaríamos em outro patamar. As forças negacionistas atrasaram o enfrentamento à crise, mas é fundamental que agora haja um senso de urgência para que as medidas sejam implementadas de forma imediata”.
A crise climática é um desafio global que requer colaboração, planejamento e ações concretas para garantir um futuro mais seguro para as próximas gerações.