Pesquisadores brasileiros e estrangeiros descobrem 10 novas espécies de leguminosas na região neotropical, incluindo a Amazônia brasileira, Cerrado e países da América Central. Muitas delas estão ameaçadas de extinção. Segundo o doutorando da Escola Nacional de Botânica Tropical, Alexandre Gibau de Lima, os estudos incluem espécies nativas de vários países da região.
Estudos prévios apontam para ameaça de extinção de novas espécies de leguminosas. De acordo com Lima, avaliações da UICN indicam que muitas delas estão em alguma categoria de perigo. Muitas ocorrem em pequenos fragmentos em áreas urbanizadas ou próximas a grandes plantações. A UICN é responsável pela conservação dessas espécies.
Estudo de taxonomia vegetal é base para conservação de espécies. Conhecer as espécies é necessário para tomar decisões de conservação, segundo Lima. Entre as novas leguminosas descobertas, está o barbatimão-do-rio-doce, encontrado apenas na Mata Atlântica. O gênero Stryphnodendron é conhecido pela barbatimão medicinal, nativa do Cerrado. Leguminosas produzem frutos, como vagens.
Outra espécie chama atenção: o Stryphnodendron velutinum, árvore endêmica com até 5m de altura encontrada em uma pequena área de cerradão no noroeste de Minas Gerais. Esta espécie vive fora de unidades de conservação em um ambiente altamente impactado pelo ser humano. A pesquisa incluiu análise de exemplares em herbários, incluindo o Jardim Botânico do Rio, e expedições em busca de barbatimões, permitindo melhor conhecimento e descrição de novas espécies. Dois novos gêneros foram descritos, Naiadendron e Gwilymia, homenageando a Floresta Amazônica e Carl Friedrich Philipp von Martius, representando simbolicamente a Amazônia com a figura das ninfas das águas doces (náiades) na mitologia grega.
O nome Gwilymia é uma referência ao botânico Gwilym Peter Lewis, do Jardim Real de Kew no Reino Unido, por sua significativa contribuição para a pesquisa sobre leguminosas, incluindo espécies que variam de arbustos pequenos a árvores gigantes com mais de 40 metros de altura.
As descrições das novas espécies foram publicadas nas revistas Systematic Botany e Phytotaxa. Já os novos gêneros foram divulgados na revista PhytoKeys, na edição especial Advances in Legume Systematics, coordenada por especialistas internacionais de leguminosas para destacar os avanços mais recentes e importantes no conhecimento taxonômico e evolutivo da família dessas plantas.
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Novas espécies foram descritas em Systematic Botany e Phytotaxa. Gêneros novos foram publicados na revista PhytoKeys, na edição especial de Advances in Legume Systematics, coordenada pela comunidade internacional de especialistas em leguminosas para destacar avanços significativos na evolução e taxonomia da família de plantas.
A pesquisa foi compartilhada por biotecnólogos internacionais especializados em sistemática e evolução de plantas, incluindo leguminosas. O Brasil tem especialistas talentosos na evolução de leguminosas e faz parte dessa comunidade internacional, segundo Lima. “Tem uma contribuição muito expressiva”.
“Nós estudamos o DNA dessas plantas para tentar entender as relações de parentesco entre elas e um pouco da história evolutiva de tais espécies na região neotropical. A gente fornece esses dados ao público para a tomada de decisões para conservação”, disse Lima. Segundo Lima, a próxima etapa para a conservação é ligar a pesquisa científica aos centros de conservação para sugerir medidas de proteção às espécies. Ele destacou que o estudo é crucial para não somente preservar as leguminosas, mas também é relevante para os estudos em biotecnologia.
de acordo com ele, é preciso ter conhecimento para explorar uma planta, seja para fins medicinais ou madeireiros. Ele citou o barbatimão, típico do Cerrado brasileiro, como exemplo. A planta tem propriedades adstringentes e já é conhecida desde o século 18, mas possui grande potencial biotecnológico.”Outras espécies do mesmo gênero do barbatimão são pouco conhecidas, mas também podem apresentar potencial biotecnológico, seja medicinal, para indústria da madeira e qualquer outra coisa.”
O conhecimento da taxonomia e da botânica é fundamental para explorar leguminosas em outras áreas, como farmácia, indústria da madeira ou como planta ornamental, segundo o pesquisador. Para ter sucesso nestes campos, é necessária uma base sólida na botânica. “Primeiro, é preciso saber com o que você está trabalhando”, afirmou.
O estudo inclui pesquisadores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, da Universidade de São Paulo, Embrapa, universidades federais de Ouro Preto, Santa Catarina e São Carlos, Universidade Estadual de Feira de Santana, e das universidades suecas de Gotemburgo e suíça de Zurique.