A recuperação da qualidade das águas de rios urbanos, como o Sena em Paris, não depende apenas de grandes investimentos financeiros, mas também de um esforço coletivo para promover a educação ambiental. Essa é a opinião do professor de biologia e ecologia César Pegoraro, educador ambiental na ONG SOS Mata Atlântica, que falou sobre o tema em entrevista à jornalista Mara Régia, no programa **Natureza Viva**, da Rádio Nacional da Amazônia.
De acordo com Pegoraro, embora o rio Sena tenha passado por melhorias significativas graças a um investimento de 1,4 bilhão de euros (cerca de R$ 8,3 bilhões) em uma nova infraestrutura de tratamento de águas residuais, ainda há um longo caminho a ser percorrido para garantir níveis de qualidade que permitam o uso seguro de suas águas para banho e consumo.
O professor, que recentemente retornou de uma viagem à França, relatou sua surpresa com a limpeza do Sena, destacando a presença de peixes e a prática de atividades recreativas, como remo e navegação, no rio. No entanto, ele alertou para a persistência da chamada poluição difusa, que inclui resíduos como lixo nas ruas, fuligem dos carros e óleo de veículos, que acabam sendo carregados para o rio pela chuva.
Pegoraro enfatizou que, embora rios urbanos como o Sena dificilmente alcancem a qualidade de rios em ambientes naturais preservados, eles podem, sim, se tornar mais acessíveis e apropriados para a população, como já se observa em Paris. Comparando com a situação de rios urbanos brasileiros, como o Tietê em São Paulo, ele afirmou que ainda há muito a aprender com as iniciativas estrangeiras.
Segundo o professor, além dos investimentos em infraestrutura, é essencial valorizar o saneamento básico e incorporar medidas educativas que mudem a consciência das pessoas sobre o meio ambiente. “O saneamento básico tem que ser um projeto cidadão. Nós, enquanto eleitores e contribuintes, temos que exigir essa dignidade”, defendeu Pegoraro. Ele acrescentou que, sem uma mudança na mentalidade da população, os esforços financeiros podem não ser suficientes para alcançar a despoluição desejada.