O Carnaval do Rio de Janeiro, um dos maiores espetáculos do mundo, deveria ser uma celebração aberta à cobertura jornalística transparente e livre. Porém, nos bastidores da Marquês de Sapucaí, o que se viu foi um quadro de censura, favorecimento a influenciadores e desrespeito flagrante à imprensa, revelando uma face obscura da organização do evento.
Sala de Imprensa: Um Impedimento à Transparência
A liberdade de imprensa é uma pedra angular da democracia, porém, durante os desfiles de Carnaval, a sala de imprensa se tornou um local de “censura”. As janelas, únicas formas de visualização dos desfiles, foram gradeadas, impossibilitando a completa observação dos jornalistas e fotógrafos.
Os fotógrafos e cinegrafistas, que dependem de ângulos privilegiados para capturar a essência do espetáculo, encontraram suas lentes impedidas de captar a beleza dos desfiles. Já os jornalista, que precisam de uma visão ampla para analisar setor por setor e detalhes de cada agramiação, também não tiveram essa facilidade. Caso fosse necessário havia outro meio de acompanhar os desfiles, uma TV de “42 polegadas” disponibilizada na sala, uma formiga diante de um elefante. Enquanto um telão de LED de mais de 300 polegadas mostrava apenas Tweets sobre o evento.
Além de todo desconforto, a água disponibilizada era quente em todos os dias como acontece em todos os anos, enquanto o café só foi disponibilizado nos desfiles do Grupo Especial, deixando claro a diferença entre as Ligas. Em alguns momentos aparecia as meninas da “Águas do Rio” com água gelada, mas o a disponibilidade era por vontade própria e mesmo assim tinham que convencer os segurança de que o bebedouro não estava funcionando.
A rotina da maioria dos profissionais de imprensa é corrida e longa, é costume chegar ao local com pelo menos uma hora de antecedência, afim de se organizar para a cobertura que leva cerca de 12h por noite no local, muitas vezes com fome e “sede”. Para um evento patrocinado por uma das maiores empresas de bebidas do Brasil, não ter uma água digna é vergonhoso e uma prova concreta de que a imprensa não é valorizada pela organização do evento.
Privilégios Injustificados e Desrespeito aos Profissionais
A distribuição de credenciais seguiu critérios duvidosos, privilegiando influenciadores em detrimento de jornalistas que trabalham arduamente durante todo o ano. O descontentamento era notório entre os jornalistas desde que iniciaram as respostas negativas do credenciamento. Equipes inteiras foram cortadas, para exemplificar: um veículo de comunicação precisa muitas vezes de um mínimo de pessoas, o que chamamos de equipe de apoio: um jornalista, um repórter, um fotográfo ou cinegrafista e um técnico de apoio que fica no computador fixo na sala. Sabemos que muitas vezes não é possível o credenciemanto de uma equipe muito grande, mas reduzir esse número a um profissional em um evendo de grande porte, é também um grande desrespeito. Sem contar aqueles que sequer obteve acesso ao local, enquanto alguns veículos obtiveram cerca de 14 credenciais, e ainda foram agraciados com transito livre e coletes fixos.
Enquanto jornalistas foram barrados, influenciadores digitais celebravam nas redes sociais sua presença na Sapucaí, gerando ainda mais indignação entre os profissionais da imprensa. As influenciadoras Anna Estrella e Victoria Terra postaram em suas redes sociais comemorando o credenciamendo para o Carnaval da Marquês de Sapucaí. O vídeo postado na sexta-feira (9), não foi bem recebido pela imprensa e internautas, que seguiram questionando os critérios de seleção da Liesa.
Credenciais, Coletes e Rodízio
Como divulgado internamente e também de forma pública nas redes sociais pela Rio Carnaval, segue na integra os seguintes tipos de credenciais, a partir da análise interna da Comissão de Credenciamento:
CREDENCIAL DE TRÂNSITO LIVRE ARMAÇÃO (TLA) – Permite acesso ao Sambódromo, circulação e permanência em todas as suas dependências (exceto nos locais destinados ao público pagante e a pista de desfiles), incluindo as áreas de concentração (na Avenida Presidente Vargas, de ambos os lados) e armação (no Setor 1).
CREDENCIAL DE TRÂNSITO LIVRE (TL) – Permite acesso ao Sambódromo, circulação e permanência em todas as suas dependências (exceto nos locais destinados ao público pagante e a pista de desfiles), incluindo apenas a área de concentração (na Avenida Presidente Vargas, de ambos os lados) no caso da pista de desfiles, com permanência vedada na armação (Setor 1) e na dispersão.
CREDENCIAL SERVIÇO PRESS (SV) – Permite acesso à concentração do Sambódromo (na Avenida Presidente Vargas, de ambos os lados), e permanência na sala de imprensa, salas destinadas a cada veículo ou cabines de rádio, quando for o caso. É proibida a permanência nos locais destinados ao público pagante e na dispersão, bem como é vedado o acesso à pista de desfiles.
Os números não foram divulgados, mas para a maior parte da imprensa a credencial cedida segundo análise interna foi CREDENCIAL SERVIÇO PRESS (SV). Limitando os jornalistas à concentração e a “sala de imprensa”. Para acessar a pista foram disponibilizados coletes.
A distribuição dos coletes ocorria de acordo com o grau de proximidade entre os profissionais e a equipe organizadora, privilegiando os mais íntimos com coletes fixos, alguns foram por critérios válidos, enquanto os demais eram submetidos ao famoso sistema de rodízio. No entanto, havia critérios decididos na hora para a utilização. Por vezes jornalistas eram proibidos de pisar na pista, o motivo, era somente permitidos fotógrafos. Mesmo sabendo que pelo corte feito pela Liga, havia profissionais que estavam acumulando funções e o uso do celular para filmagem e fotos faz parte da vida profissional de um jornalista nos dias de hoje. É nesse momento que mais privilégios eram expostos, enquanto um não poderia adentrar o recinto, os amigos eram contemplados com coletes. Eram fotógrafos? Não! Enquanto um era barrado pela sua função outros eram permitidos pela intimidade. Critério duvidosos era o que não faltava, o fotógrafo que era permitido também era vetado de acordo com a sua mídia/veículo. Por vários momentos fotógrafos de rádios, foram impedidos de pegar o colete por ser fotógrafo de uma rádio.
Podemos pontuar que esse sistema falhava em sua aplicação, permitindo que alguns profissionais retivessem os coletes por períodos prolongados, às vezes durante todo o tempo dos desfiles. Além disso, havia uma demora significativa na aquisição dos coletes, formando fila e tornando o processo ainda mais desorganizado. Os responsáveis pela equipe não tomavam providências diante dessas irregularidades, o que evidenciava uma falta de fiscalização e controle eficazes. Enquanto os jornalistas imploravam por um colete, os sorrisos e deboches eram contínuos diante das reclamações.
Aos nossos quase 40 milhões de leitores, fica aqui uma reflexão sobre o futuro do Carnaval Carioca
Diante desses acontecimentos, é crucial que a sociedade reflita sobre o futuro do Carnaval do Rio de Janeiro. A censura, os privilégios injustificados e o desrespeito à imprensa minam a credibilidade do evento e comprometem sua imagem internacional. É hora de exigir transparência, ética e respeito por parte da organização do Carnaval e das autoridades responsáveis.
O Carnaval é muito mais do que uma festa. É uma expressão cultural que atrai milhões de turistas e promove a diversidade e a criatividade do povo brasileiro. Portanto, é dever de todos zelar pela integridade e pelo prestígio desse evento tão emblemático. Que os próximos anos tragam mudanças positivas e um ambiente mais justo e inclusivo para todos os profissionais da imprensa e amantes do Carnaval.
A cobertura jornalística do carnaval desempenha um papel crucial na preservação e divulgação da cultura nacional. Os jornalistas, por meio de seu trabalho, trazem uma valiosa perspectiva histórica e social para essa festividade, enriquecendo a compreensão pública do Carnaval.
Através de reportagens, análises contextuais e entrevistas perspicazes, os profissionais da imprensa oferecem ao público uma visão abrangente das tradições, desafios e evoluções que caracterizam o Carnaval. Além disso, eles destacam as questões sociais e políticas que estão intrinsecamente ligadas a essa celebração, promovendo uma reflexão crítica sobre o seu impacto na sociedade.