Nesta terça-feira (10), Natal sediou o seminário “Desafios e Experiências da Educação no Nordeste”, onde foi apresentada uma proposta inovadora para o sistema educacional: um modelo que elimina a reprovação escolar. A iniciativa foi defendida por Erondina Silva, representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em um evento promovido pela Secretaria de Educação, do Esporte e do Lazer do Rio Grande do Norte, com apoio do Instituto Cultiva e do Consórcio Nordeste.
Reunindo autoridades dos governos federal e estaduais, o encontro buscou divulgar ações regionais que estão aprimorando índices educacionais e fortalecendo o relacionamento entre professores, alunos e famílias. Um dos destaques foi o programa “Avexadas para Aprender”, criado para combater a distorção idade-série — considerada um dos principais fatores do fracasso escolar, segundo Erondina.
Contrariando Destinos
O programa “Avexadas para Aprender” integra a estratégia Trajetórias de Sucesso Escolar do Unicef e busca romper ciclos de desmotivação escolar, especialmente entre estudantes de regiões vulneráveis, como o Norte e o Nordeste. Erondina destacou que a reprovação de estudantes pobres, pretos, indígenas e de periferias é muitas vezes naturalizada, perpetuando desigualdades. “Isso é uma cultura enraizada, até mesmo nas famílias. Muitas vezes, o pai acredita que a reprovação será algo positivo para o filho”, afirmou, alertando para o impacto desse pensamento em mais de 4,3 milhões de estudantes afetados pela distorção idade-série.
Desde sua implementação, o programa tem evoluído, abordando questões como multiletramento e inclusão digital, promovendo um ambiente educacional mais flexível e conectado às realidades dos estudantes.
Criatividade e Pensamento Crítico na Bahia
Outro exemplo inspirador veio da Bahia, onde o projeto “Agência de Notícias na Escola”, lançado em 2023 pela Secretaria de Educação do Estado e pelo Instituto Anísio Teixeira (IAT), utiliza a produção de notícias para incentivar o pensamento crítico e a cidadania entre estudantes. Com apoio financeiro para aquisição de equipamentos e formação pedagógica, o projeto cresceu de 50 para 81 escolas em apenas um ano, beneficiando 855 estudantes e 162 professores.
A iniciativa, fundamentada na metodologia “aprender fazendo”, de Anísio Teixeira, não só desenvolve habilidades de leitura, escrita e argumentação, mas também aproxima os estudantes de seus territórios e promove autonomia e responsabilidade.
Charlene de Jesus, educadora no Colégio Estadual Professor Carlos Valadares, em Santa Bárbara, enfatiza o impacto do projeto. “É essencial entregar um trabalho de qualidade à comunidade e permitir que jovens dialoguem com outros jovens, utilizando sua própria linguagem.” Charlene também destacou a importância de temas como educação midiática e combate às fake news no currículo escolar.
Educação como Construção Coletiva
A experiência de Charlene ilustra uma mudança significativa no papel do professor, que se torna mediador do conhecimento em vez de uma figura hierárquica. “A troca de experiências entre professores e alunos é imensa. Precisamos parar de diminuir os estudantes e reconhecer a força dessa interação”, concluiu.
Projetos como o “Avexadas para Aprender” e a “Agência de Notícias na Escola” mostram que um modelo educacional mais inclusivo e inovador é possível, apontando caminhos para enfrentar desafios históricos e promover uma educação mais equitativa e transformadora.