Na vendinha de frutas na porta de casa, no carrinho de pipoca em frente à igreja, com roupas e perfumes no porta-malas do carro ou no salão de cabeleireiro improvisado no quintal, milhões de mulheres no Brasil encontram no empreendedorismo uma alternativa de sustento e autonomia. No entanto, muitas dessas iniciativas operam na informalidade, um cenário que desafia as políticas públicas e limita o crescimento dos negócios.
A questão foi debatida nesta terça-feira (18) no painel “Vozes do Empreendedorismo Feminino: Conectando Saberes e Ações”, promovido pelo governo federal. Especialistas e gestores públicos destacaram que facilitar o acesso ao crédito e oferecer capacitação são medidas fundamentais para impulsionar essas empreendedoras e fortalecer seus negócios.
Informalidade e desafios
Segundo dados apresentados no evento, 70% das mulheres empreendedoras são mães e têm um faturamento médio de aproximadamente R$ 2 mil. A professora Daiane Batista, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), destacou que muitas dessas mulheres recorrem ao empreendedorismo por necessidade, devido a dificuldades no mercado formal de trabalho.

“As mulheres empreendem porque enfrentam barreiras no emprego formal, mas também porque precisam conciliar o trabalho com a maternidade e outras responsabilidades domésticas”, explicou Daiane. A pesquisadora também destacou que a informalidade é ainda maior entre mulheres negras, cujos negócios frequentemente são conduzidos dentro de suas próprias casas.
Para elas, a criatividade e a resiliência são essenciais para manter os negócios funcionando. “As empreendedoras precisam o tempo todo criar soluções para viabilizar suas iniciativas sem acesso a capital”, afirmou a professora.
Pesquisa revela principais dificuldades
Caroline Moreira de Aguiar, líder de educação e projetos do Instituto Rede Mulher Empreendedora, apresentou uma pesquisa nacional que evidencia os desafios enfrentados por essas mulheres. O acesso ao crédito e a gestão financeira aparecem como os principais obstáculos.
“O faturamento dessas empreendedoras dificilmente ultrapassa os R$ 2 mil, e muitas vezes o que ganham é reinvestido no próprio negócio, impedindo o crescimento”, explicou Caroline. Segundo o levantamento, a sobrecarga é uma realidade para essas mulheres, que, além de suas empresas, são responsáveis pelo cuidado com filhos, idosos e outras tarefas domésticas. Esse cenário impacta diretamente o tempo disponível para gerir e expandir os negócios.
As dificuldades são ainda maiores para mulheres negras e pardas, que relataram um nível elevado de sobrecarga e menos acesso a oportunidades.
Políticas públicas e crédito para empreendedoras
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, ressaltou a importância de políticas públicas voltadas para as empreendedoras. Segundo ela, o governo federal tem investido em programas que oferecem qualificação e acesso a recursos financeiros.
“Precisamos garantir que as mulheres tenham acesso ao crédito e possam vender seus produtos em mercados internos e externos”, afirmou a ministra. Ela enfatizou que diferentes grupos de empreendedoras enfrentam desafios específicos, como as mulheres da Amazônia, do Nordeste, quilombolas e indígenas, e que o governo precisa atuar nessas frentes para reduzir desigualdades.
O secretário executivo do Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Tadeu Alencar, destacou a importância da Estratégia Nacional do Empreendedorismo Feminino, que busca facilitar o acesso ao crédito para mulheres empreendedoras. Ele citou o programa Procred 360, parte do programa Acredita, que oferece financiamento de até 30% do faturamento do ano anterior para microempreendedores. No caso de negócios liderados por mulheres, esse percentual sobe para 50%.
“É fundamental que mulheres quilombolas, indígenas, da agricultura familiar e das periferias tenham acesso a esses recursos”, afirmou Alencar. Ele também ressaltou que, apesar da percepção de que mulheres representam maior risco financeiro, elas se mostram melhores pagadoras do que os homens.
Com medidas que ampliem o acesso ao crédito e capacitação, especialistas acreditam que o cenário do empreendedorismo feminino pode avançar, fortalecendo negócios e garantindo maior autonomia econômica para milhões de mulheres no Brasil.