Um projeto transformador da Coordenação Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) começou a mostrar resultados promissores. Na última semana, em Brasília, foi realizada a formatura da primeira turma da Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas. Com 39 meninas e 11 meninos, todos com idades entre 15 e 18 anos, o programa busca capacitar jovens quilombolas em áreas que vão além do currículo tradicional, abordando temas como a luta por direitos, combate às desigualdades e desenvolvimento de liderança comunitária.
Com o apoio do Fundo Malala, a escola tem como principal objetivo preparar esses jovens, especialmente meninas, para enfrentar os desafios de suas comunidades, buscando soluções inovadoras para os problemas cotidianos e incentivando a igualdade na educação. Juliany Carla da Silva, de 16 anos, da comunidade de Trigueiros em Vicência (PE), é uma das primeiras formandas e destaca a importância do incentivo recebido de professores e familiares para conquistar seu espaço na escola.
As aulas, atualmente realizadas de forma virtual, permitem que os estudantes continuem frequentando suas escolas regulares enquanto participam do projeto. Para Glaydson Ítalo de Jesus, de 16 anos, da comunidade Itamatatiua em Alcântara (MA), o projeto despertou um desejo de seguir a carreira jurídica, com a ambição de cursar Direito em uma universidade federal e realizar um intercâmbio internacional.
Formação de Lideranças e Conexão com as Raízes Comunitárias
Desde 2022, o projeto vem sendo construído por ativistas e educadores em conjunto com a juventude quilombola, criando uma metodologia única que respeita e reflete as realidades e necessidades específicas dessas comunidades. O curso incentiva os jovens a desenvolver um pensamento crítico e a encontrar soluções para questões locais, como a falta de infraestrutura escolar e as longas distâncias que muitos estudantes enfrentam para acessar a educação formal.
Para Ana Paula Sousa, de 18 anos, do Quilombo Mourões em Colônia do Piauí (PI), o projeto foi uma oportunidade de entender melhor sua identidade quilombola e os direitos associados a ela. A escola também oferece suporte para que os alunos possam se posicionar de maneira eficaz em questões sociais, fortalecendo a voz das jovens quilombolas e suas comunidades.
O encontro de formatura, realizado entre os dias 20 e 22 de agosto, contou com a presença de figuras importantes, como a promotora de justiça Karoline Maia, a primeira quilombola a alcançar esse cargo. Ela ressaltou a importância de iniciativas que permitam que os jovens quilombolas estudem sem precisar deixar seus territórios, evitando o processo de desterritorialização e perda cultural.
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, também esteve presente e destacou o papel essencial da escola na luta contra o racismo e a desigualdade, reforçando que a formação dessas jovens lideranças é crucial para fortalecer as raízes de resistência dentro dos territórios quilombolas.