O renomado climatologista Carlos Nobre, figura de destaque nos estudos sobre o clima, alertou para o perigo iminente das atuais políticas de combate às mudanças climáticas durante a COP29, que acontece em Baku, Azerbaijão. Segundo Nobre, as medidas apresentadas até o momento não são suficientes para impedir que o aquecimento global ultrapasse níveis seguros, colocando o planeta em rota de risco ambiental grave. “Estamos a caminho de um suicídio planetário se não acelerarmos drasticamente a redução das emissões”, afirmou.
Nobre destacou que, embora o Acordo de Paris tenha estabelecido uma meta de redução de 43% nas emissões de gases de efeito estufa até 2030, esse nível de corte já se mostra insuficiente. De acordo com ele, o aquecimento global alcançou 1,5°C acima dos níveis pré-industriais há 16 meses e corre o risco de se tornar permanente se permanecer nessa marca por três anos consecutivos. A previsão de especialistas aponta para um aumento ainda maior, com temperaturas podendo chegar a 2,5°C em 2050, caso as emissões globais continuem no ritmo atual.
Responsabilidade Global e a Posição do Brasil
O climatologista também criticou a falta de renovação das metas de muitos países antes do prazo final, em 2025. Entre os poucos que já atualizaram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) está o Brasil, que apresentou novos compromissos para redução de emissões até 2035. O vice-presidente Geraldo Alckmin é responsável por expor essas novas metas na COP29, destacando o papel do Brasil, futuro anfitrião da COP30, na liderança da agenda climática global.
Adaptação e Ações Locais como Respostas Urgentes
Nobre enfatizou que, além de intensificar as medidas para redução de emissões, os países devem se preparar para os impactos inevitáveis das mudanças climáticas, que incluem a intensificação de eventos climáticos extremos como furacões e tempestades. Ele citou exemplos recentes, como os furacões nos Estados Unidos e México, e as enchentes devastadoras em Valência, na Espanha. Segundo ele, a adaptação é uma questão especialmente urgente para países em desenvolvimento, que são mais vulneráveis a esses impactos.
No Brasil, Nobre reforça que é possível promover o consumo consciente e reduzir emissões individuais. “No Brasil, 75% das emissões vêm do desmatamento, principalmente na Amazônia e no Cerrado. Mas há alternativas sustentáveis, como a carne da pecuária regenerativa, que reduz as emissões e mantém preços competitivos,” explicou. Ele também apontou os benefícios econômicos da energia solar e dos veículos elétricos, que se tornam cada vez mais acessíveis e sustentáveis em comparação aos combustíveis fósseis.
Para Nobre, a transição para um consumo sustentável e a escolha por alternativas mais limpas e economicamente viáveis são passos concretos que podem ser adotados por todos. “Sociedades democráticas, como a nossa, têm a oportunidade de liderar essa transformação. Podemos contribuir diretamente comprando carne de pecuária sustentável e veículos elétricos, escolhas que têm tanto impacto ambiental quanto retorno financeiro,” concluiu.