As recentes ocorrências de mortes violentas, resultado de disputas internas entre lideranças do Primeiro Comando da Capital (PCC), levantam questões sobre uma possível divisão inédita dentro da facção criminosa. No entanto, especialistas destacam que, apesar dos sinais de ruptura, a estrutura e a cultura estabelecidas pelo grupo já estão firmemente consolidadas, oferecendo pouco espaço para o surgimento de uma concorrência significativa.
Essa avaliação é compartilhada pelo pesquisador Bruno Paes Manso, da Universidade de São Paulo (USP), escritor e jornalista, cujas pesquisas há mais de duas décadas abordam temas relacionados à violência. Em uma entrevista à Agência Brasil, Manso ressaltou que a cultura criminal estabelecida pelo PCC parece estar arraigada no estado de São Paulo, tornando improvável a emergência de uma estrutura concorrente, como um “PCC do B”.
Apesar da incerteza inerente ao mundo do crime, Manso observa que a estrutura do PCC se mantém mesmo diante de conflitos internos, possibilitando a continuidade das atividades criminosas de maneira profissional e lucrativa. Ele destaca que, ao longo de três décadas de atuação, o PCC desenvolveu uma organização que transcende suas lideranças individuais, tornando-se uma força estabelecida na criminalidade paulista.
A recente série de mortes violentas também levanta questionamentos sobre o futuro da segurança pública em São Paulo. Manso ressalta que a possível divisão do PCC poderia desencadear uma disputa pelo mercado das drogas e territórios, potencialmente resultando em um aumento significativo da violência. Ele destaca a preocupação do Ministério Público em enfraquecer economicamente o grupo, dada sua crescente influência política e econômica na região.
Além disso, Manso observa uma tendência semelhante à das máfias italianas, onde grupos criminosos investem em negócios legais para lavar dinheiro ilícito. Ele aponta que o PCC já está inserido na economia formal, controlando empresas e influenciando setores diversos, como o transporte público em São Paulo. Essa ascensão do poder econômico do PCC apresenta novos desafios para as autoridades no combate ao crime organizado.
No que diz respeito à recente escalada de violência na Baixada Santista, especialmente durante as operações Verão e Escudo, Manso destaca a resposta tradicional da polícia diante de mortes de policiais, que muitas vezes resulta em confrontos letais. Ele ressalta a importância de abordagens mais ponderadas na segurança pública, enfatizando a necessidade de reduzir a letalidade policial e evitar respostas baseadas na vingança.
Em resposta às preocupações levantadas, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo enfatizou seu compromisso com a preservação da vida e destacou medidas para reduzir as mortes em confronto, incluindo investimentos em treinamento, aquisição de equipamentos não letais e o uso de câmeras corporais para monitoramento policial.
Apesar dos esforços das autoridades, a complexidade e a persistência dos desafios enfrentados na segurança pública exigem abordagens mais amplas e coordenadas para lidar com o crime organizado e reduzir a violência nas comunidades afetadas.