Uma pesquisa inédita conduzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que novas linhagens do coronavírus evoluíram na comunidade da Maré, no Rio de Janeiro, e se espalharam globalmente. O estudo, intitulado “A circulação viral em favelas tem impacto global?”, identificou variantes surgidas no complexo de favelas que infectaram pessoas no Brasil, Estados Unidos, Suíça, Índia, África do Sul e China.
Dados principais da pesquisa
- Taxa de mortalidade por Covid-19 na Maré entre 10% e 16% (quase o dobro da média da cidade do Rio de Janeiro).
- Linhagens da variante Gamma, originadas na Maré, foram encontradas em casos no Brasil, EUA e Suíça.
- Cepa da variante Delta, surgida na comunidade, foi identificada em outros estados brasileiros, além dos EUA, Índia, África do Sul, China e Suíça.
- Mutações da variante Ômicron na Maré foram ancestrais de casos na América Latina.
Por que as favelas favorecem a evolução viral?
O pesquisador Thiago Moreno Souza, um dos autores do estudo, explica que condições estruturais precárias facilitam a disseminação e mutação de vírus respiratórios.
“Fatores como saneamento precário e alta densidade populacional favorecem a rápida transmissão e evolução do vírus, podendo catalisar sua dispersão em um contexto global”, afirma Souza.
Além disso, muitas favelas estão localizadas em áreas urbanas centrais de megacidades, aumentando a possibilidade de que variantes geradas nesses territórios se espalhem rapidamente.
A importância de priorizar as favelas na saúde pública
O estudo destaca a necessidade de investimentos e estratégias específicas para favelas na preparação para futuras pandemias.
“Melhorar infraestrutura básica, saneamento e assistência médica é crucial para a saúde pública e para a resiliência em crises futuras”, apontam os pesquisadores.
Impacto global e futuro
Estudos indicam que mais de um terço da população mundial poderá viver em favelas até 2050. No Brasil, 8% da população já reside nesses territórios, segundo o IBGE.
Compreender a dinâmica dos agentes infecciosos em comunidades de baixa renda é fundamental para evitar novas epidemias e proteger populações vulneráveis.
Publicação do estudo: Frontiers in Microbiology
Instituições envolvidas: Fiocruz, UFF, IDOR e PUC-Rio
Com esses dados, os cientistas reforçam que as favelas não são apenas locais de alta vulnerabilidade sanitária, mas também espaços que podem influenciar a dinâmica de pandemias em nível global.