Uma pesquisa publicada pela Rede de Observatórios da Segurança revela que, das mais de 4.000 pessoas mortas por policiais no Brasil em 2023, 87,8% eram negras. O levantamento, intitulado “Pele Alvo: Mortes Que Revelam Um Padrão”, destaca o racismo estrutural presente na segurança pública e foi baseado em dados obtidos via Lei de Acesso à Informação em nove estados, incluindo Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.
A cientista social e coordenadora da Rede, Silvia Ramos, afirma que os números são alarmantes e refletem como o racismo permeia a segurança pública. Ramos enfatiza que o treinamento policial frequentemente reforça um perfil suspeito que discrimina jovens negros das favelas e periferias, tratando-os como possíveis alvos.
“O perfil do suspeito policial é fortalecido nas corporações. O policial aprende que deve tratar diferente um jovem branco vestido de terno na cidade e um jovem negro de bermuda e chinelo em uma favela. A questão é: 99,9% dos jovens negros das favelas e periferias estão de bermuda e chinelo. E todos passam a ser vistos como perigosos e como possíveis alvos que a polícia, se precisar, pode matar”, diz a pesquisadora.
A Bahia registrou o maior índice de letalidade policial, com 1.702 mortes, seguida por Rio de Janeiro (871) e Pará (530). Em alguns estados, como o Ceará e Pará, houve redução tímida na letalidade policial, mas com aumento significativo no número de vítimas negras. A juventude é outro grupo desproporcionalmente afetado: no Ceará, 69,4% dos mortos pela polícia eram jovens de 18 a 29 anos, enquanto crianças e adolescentes entre 12 e 17 anos representaram 243 das vítimas.
A Rede de Observatórios da Segurança também destaca a falta de dados completos sobre raça e cor das vítimas, com 856 casos não informados, prejudicando uma análise aprofundada da realidade. Alguns estados, como o Maranhão e Ceará, registram mais de 50% dos casos sem essa informação.
Em resposta ao estudo, secretarias estaduais como as do Pará e do Rio de Janeiro apontaram medidas para reduzir a letalidade e o uso de câmeras corporais, enquanto a Secretaria de Segurança de São Paulo e do Ceará afirmaram investir na formação de seus agentes para um atendimento mais humanizado às populações vulneráveis.