A União Europeia está prestes a dar um passo decisivo na disputa comercial com os Estados Unidos. Líderes dos 27 países do bloco se reúnem nesta segunda-feira, em Luxemburgo, para alinhar uma resposta coordenada às tarifas impostas pelo governo de Donald Trump sobre aço, alumínio, automóveis e outros produtos europeus. A expectativa é que a UE aprove um primeiro pacote de contra-tarifas que pode atingir até US$ 28 bilhões em exportações americanas.
A medida insere a UE no mesmo campo de ação de China e Canadá, que já adotaram retaliações semelhantes, elevando o risco de uma guerra comercial com impacto global. Especialistas alertam para o potencial de aumento de preços ao consumidor e desaceleração econômica em diversas regiões do mundo.
Entre os produtos que devem ser alvo da retaliação europeia estão carnes, vinhos, cereais, madeira, roupas, goma de mascar, fio dental e até papel higiênico. A proposta será apresentada pela Comissão Europeia ao final do encontro desta segunda-feira, e busca responder diretamente às taxas norte-americanas sobre aço e alumínio, evitando — por ora — uma retaliação mais ampla.
Um dos pontos de tensão nas negociações internas da UE é a inclusão do uísque na lista. A proposta de sobretaxa de 50% provocou reação imediata de Trump, que ameaçou aplicar tarifas de 200% sobre bebidas alcoólicas europeias. Países como França e Itália, grandes exportadores de vinho, manifestaram preocupação com os riscos dessa escalada.
A Comissão Europeia, liderada por Ursula von der Leyen, busca garantir que qualquer ação tenha apoio unânime dos Estados-membros, reforçando a coesão do bloco em defesa do livre comércio — um dos pilares da economia europeia. “Nosso maior desafio após o Brexit era evitar divisões internas. Agora, diante de Trump, a mensagem precisa ser clara e unificada”, afirmou um diplomata europeu.
Há, no entanto, divergências internas. A França defende uma reação dura, incluindo a suspensão de investimentos europeus nos EUA, enquanto a Irlanda pede cautela, e a Itália — com um governo alinhado a Trump — questiona se uma retaliação é o caminho certo.
Apesar das tentativas de diálogo, as conversas com autoridades norte-americanas seguem sem avanços. O comissário de Comércio da UE, Maros Sefcovic, classificou como “franca” a reunião que teve com os representantes dos EUA na última sexta-feira, reforçando que as tarifas aplicadas são “injustificadas e prejudiciais”.
A votação oficial sobre as contra-tarifas está marcada para quarta-feira. Salvo uma oposição improvável de uma maioria qualificada dos países membros, a medida deve ser aprovada e entrar em vigor em duas fases: a primeira em 15 de abril, e a segunda, um mês depois.
Enquanto isso, Von der Leyen conduz reuniões paralelas com líderes dos setores mais afetados — aço, automóveis e farmacêuticos — para avaliar os impactos e planejar os próximos passos. O cenário é de tensão, mas também de firmeza: a Europa quer deixar claro que não aceitará pressões comerciais sem resposta.