Algumas experiências inovadoras têm tornado cada vez mais sustentáveis os usos da água para geração de energia, bem como da energia para que as comunidades tenham acesso à água. Com base nessa premissa, e com o objetivo de dar visibilidade a iniciativas e práticas relacionadas ao uso sustentável de água e energia, começou hoje (13), em Foz do Iguaçu, no Paraná, o primeiro Simpósio Global sobre Soluções Sustentáveis em Água e Energia.
O encontro reúne, até o dia 15, cerca de 250 participantes de diversas partes do mundo, entre especialistas, representantes de organizações internacionais, como as Nações Unidas (ONU), e de governos, além de sociedade civil, setor privado, lideranças e especialistas em água, energia, ecossistemas terrestres e mudanças climáticas.
Organizado pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da Organização das Nações Unidas (ONU Desa) e pela Itaipu Binacional, o simpósio pretende compartilhar e explorar as melhores práticas em relação ao uso sustentável de água e energia, tendo por base um contexto onde mais de 733 milhões de pessoas não têm acesso à eletricidade e mais de 2 bilhões de pessoas são afetadas pelo chamado estresse hídrico.
Caso não se revejam procedimentos, a situação pode ficar ainda pior, uma vez que, de acordo com a Agência Internacional de Energia (Aiea), até 2035, o consumo de energia deverá aumentar em 50%, o que acarretará em um aumento de 85% do consumo de água do setor energético.
Sustentabilidade ambiental
Ao abrir o simpósio, o subsecretário-geral da ONU Desa, Liu Zhenmin, lembrou que os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs) – oito metas internacionais de desenvolvimento estabelecidos após a Cúpula do Milênio das Nações Unidas, em 2000 – foram projetados “para responder às várias fragilidades e falhas que a atual crise global está causando.” Zhenmin referia-se, em especial, ao sétimo objetivo: garantir a sustentabilidade ambiental.
“Água e energia são fundamentais para atingirmos um futuro sustentável”, acrescentou ao correlacionar, à questão ambiental, o cumprimento de outros objetivos, como o da erradicação da pobreza extrema e da fome.
Cooperação transfronteiriça
Zhenmin destacou também a importância de uma atuação conjunta envolvendo países, em especial os que fazem fronteira. “Não é coincidência que este primeiro simpósio seja realizado em Itaipu, [empreendimento] mostra o quanto cooperações transfronteiriças podem funcionar, proporcionando água e energia para alimentar e dar prosperidade a seus povos.”
“Por isso, precisamos demonstrar compromissos e ser céleres em ações e investimentos locais e internacionais”, acrescentou Zhenmin. Ele pediu que todos – autoridades, poder público, entidades, especialistas, sociedade civil – aumentem seus esforços visando proporcionar um futuro sustentável a todos.
O exemplo da Usina Hidrelétrica de Itaipu foi o primeiro case apresentado durante o simpósio. “Estamos juntos para implementar soluções e estabelecer uma plataforma de conhecimento com governos, negócios, empresas e sociedade civil ao redor do mundo”, concluiu Zhenmin.
Itaipu Binacional
Na avaliação do diretor de Coordenação da Itaipu Binacional, general Luiz Felipe Carbonell, o simpósio mostrará que a Usina Hidrelétrica de Itaipu “é um exemplo que pode ser seguido por qualquer outra hidrelétrica”, no que tange ao “desenvolvimento de hidroeletricidade em simetria perfeita com a sustentabilidade”.
“Para manter a caixa d’água [o reservatório da usina] temos de olhar para o território [nos arredores do empreendimento], de forma a gerar um círculo virtuoso para a geração de energia”, disse Carbomell, que destacou os trabalhos desenvolvidos pela binacional com matas ciliares e áreas de proteção. Para executivos da empresa, todo esse cuidado visa garantir que os US$ 3 bilhões em entradas financeiras anuais que se mantenham.
Ações ambientais também são desenvolvidas no Paraguai, país vizinho e parceiro no empreendimento, ressaltou o diretor de Coordenação paraguaio da usina, Gustavo Ovelar Rojas. “Temos oito reservas biológicas no nosso lado e queremos aproveitar esse simpósio para mostrar esta e outras ações que estamos implementando.”
Os dois países desenvolvem projetos voltados ao uso de energia limpa, por produtores locais, e à integração das atividades com as estruturas de saneamento, além de adotar internamente e por meio de experiências pilotos o uso de manejo de água e energia alternativa.
“Temos, aqui, a oportunidade de oferecer, inclusive a países africanos, formas de manejo da água, em especial sobre como superar as dificuldades para um manejo compartilhado com outros países, mostrando que é possível fazer esse uso conjunto”, disse Carbonell.
Presidente da Associação Brasileira de Hidrogênio, Paulo Emílio Valadão iniciou sua fala parabenizando o Paraguai, classificando-o como “o país que tem o melhor manejo de água”.
Sobre o Brasil, ele afirmou que, por ser um país agroindustrial, tem “muita disponibilidade de biomassa, rejeitos e manejo que podem ser usadas para a produção de hidrogênio de forma vantajosa”, que podem ajudar o país a zerar a emissão de gás carbônico na atmosfera.
A questão da escassez hídrica tem sido foco das atenções da binacional, inclusive para garantir bons níveis de água em seu reservatório. “Estamos nos preparando para isso há um bom tempo. Modernizamos equipamentos, saindo do analógico para o digital, visando eficiência e eficácia”, disse.
“Desenvolvemos também educação ambiental para conscientizar a população da área de influência, de forma a termos um acompanhamento constante do quadro para mantermos o território saudável”, acrescentou Carbonell.
*O repórter viajou a convite da Itaipu Binacional