Há 17 anos atrás, o talentoso artista cearense Tião Simpatia empreendeu uma jornada inspiradora ao compor um cordel dedicado à elucidativa Lei Maria da Penha. O gérmen dessa ideia frutificou quando ele cruzou caminhos com Paulinha Castro, na época assessora de Maria da Penha, a inspiradora da mencionada legislação. Desse encontro brotou não apenas música, mas também uma amizade sincera e uma nova missão: transmitir conhecimento e sensibilização sobre a violência contra as mulheres através de sua arte. Tião viu nessa ação a oportunidade de contribuir como artista e como cidadão engajado, movido pela indignação diante de tal desrespeito.
“É nossa maneira de contribuir como artistas, cidadãos sensíveis à causa, recusando-se a aceitar a violência e o maltrato infligidos às mulheres. Empregamos nossa voz e arte para iluminar essa causa crucial. Hoje, estou ainda mais contente, pois nossa mensagem, que começou timidamente quando a lei foi concebida, agora se multiplica através de outros indivíduos, inclusive crianças e adolescentes que recitam os cordéis de memória e nos enviam vídeos frequentemente, diretamente das escolas. Também visitamos escolas, colaborando para formar um coro coletivo de não violência contra a mulher”, compartilha Tião.
O encontro com Maria da Penha provocou uma transformação profunda em Tião. Mesmo não tendo vivido em um ambiente de abusos, ele reconhece seus próprios resquícios de machismo. Entretanto, essa vivência o levou a uma metamorfose, alterando sua abordagem e incentivando-o a compreender as mulheres dentro de um contexto multifacetado: político, social, econômico, histórico e educacional.
“Minha transformação foi radical, tanto em termos de respeito quanto de não perpetuar estereótipos. Minha criação literária e musical agora é centrada no respeito à mulher e na disseminação da lei. Essa mudança me tornou um artista mais consciente, um cidadão em constante evolução, esforçando-me para influenciar positivamente os outros”, revela Tião.
Essa influência é notável. Samy Abreu é uma das admiradoras de Tião e, aos 8 anos de idade, já declamava o cordel de cor e salteado. Hoje, aos 13 anos, ela não apenas detém conhecimento sobre inúmeras histórias de abuso contra as mulheres, mas também se orgulha do impacto que teve ao recitar o cordel na infância, conscientizando milhares de pessoas com a mensagem veiculada.
“No Facebook, minhas apresentações acumularam mais de 12 milhões de visualizações, o que significa que 12 milhões de pessoas foram tocadas e agora estão familiarizadas com a lei de maneira acessível, através da descontração característica do Cordel. Essa abordagem também alerta os homens e outras pessoas em geral sobre a importância de não perpetuar os erros cometidos por agressores e indivíduos violentos na sociedade”, destaca Samy.
A trajetória de Samy é uma constelação na esfera artística, pautada em temas sociais. Ela firmou parcerias para atuar em prol da sociedade e propagar o bem-estar. “Com o tempo, me adaptei a muitos cenários e formei colaborações. Consegui harmonizar minha carreira com o viés didático da literatura de Cordel. Sinto-me profundamente gratificada por influenciar as pessoas por meio da minha arte, através da literatura de cordel, que tanto aprecio, especialmente quando abordando assuntos tão sérios”, expressa com convicção Samy.