Em um mundo dominado pela imagem nos meios de comunicação, estariam as palavras perdendo sua força vital? Ou será que, ao contrário, estariam ficando ainda mais fortes, pois cada vez mais raras? No espetáculo “Fantasiosa Exposição da Palavra”, a atriz e dramaturga Cecilia Ripoll propõe uma reflexão sobre o impacto gerado pela invasão dos símbolos no campo das palavras. Com direção de Juliana França e Cecilia Ripoll, o solo, criação do Grupo Gestopatas, terá duas apresentações no Ateliê Alexandre Mello, em Laranjeiras, dias 2 e 3 de novembro, depois de uma bem-sucedida temporada no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto.
“Gifs, emojis, figurinhas e todos os tipos de símbolos são atualmente parte ativa de nosso vocabulário e de nossa comunicação. E qual impacto que isso tem sobre as palavras?”, questiona Cecilia Ripoll. “Se pudéssemos perguntar às letras, às sílabas e às frases como é que elas estão se sentindo, suponho que as respostas seriam plurais, e é essa pluralidade de perspectivas e de sentimentos que constitui o texto da peça. Algumas palavras são saudosistas, outras amantes das transformações. No entanto, de uma forma ou de outra, todas estão sofrendo com algo que identificam como “a financeirização da língua”, fenômeno decorrente do uso dos símbolos estar tanto na base da comunicação humana quanto nas transações financeiras virtuais”, acrescenta.
Na peça, a palavra é vista por ângulos, perspectivas e temporalidades diversas, criando metáforas sobre história, sociedade e relações afetivas. A estrutura se inspira livremente em “O Banquete”, de Platão, em que os personagens expõem suas visões sobre o amor em pequenos discursos – já na peça, os discursos, as homenagens e as indagações giram em torno da palavra. “Fantasiosa Exposição da Palavra” reúne desde histórias fictícias sobre a vida das letras antes de terem vínculo empregatício com as sílabas até reflexões mais atuais, que focam na veloz circulação da palavra no mundo virtual ou sobre o que muda para uma palavra quando ela vem acompanhada de uma hashtag. “Uma das premissas básicas do teatro é a imaginação. Por isso, apostamos nas letras e nas palavras como instrumentos provocadores da imaginação. São elas que traçam e tentam dar conta de contar, entender e resolver o seu grande problema: a relação com a humanidade” explica a diretora Juliana França.
Depois de anos sem atuar regularmente, a dramaturga resolveu voltar à cena neste trabalho autoral e íntimo, já que as questões tratadas permeiam há muito tempo o seu imaginário. “Existe, por exemplo, uma passagem que eu imaginava quando tinha uns 9 ou 10 anos. Uma cena em que as letras transitam de forma caótica pela atmosfera, gerando formas e sons inusitados. Então, como é um universo que vem se criando em mim há tanto tempo, achei que seria importante eu mesma dar som e forma com meu corpo para essa dramaturgia”, elabora Cecilia. “Além disso, existe a ideia de uma certa interação com o público, que é convidado (mas nunca intimado!) a interferir na cena, aqui e ali, de forma pontual. Essa proposta de interação faz com que eu sinta necessidade de editar a dramaturgia ao vivo, e promove sutis alterações no dia, a depender das intervenções externas, por isso digo que há uma dramaturgia viva em movimento” completa.
Sobre Cecilia Ripoll
Dramaturga, diretora, atriz e professora, formada em Artes Cênicas pela UNI-RIO, Cecilia Ripoll foi indicada ao PRÊMIO SHELL RJ 2023 pela dramaturgia PANÇA (sua direção) e ao PRÊMIO SHELL RJ 2018 pela dramaturgia ROSE (direção Vinicius Arneiro). O ano de 2023 marca a sua estreia internacional como dramaturga, quando seu texto ROSE ganha uma nova encenação na Cidade do México, com direção de Alejandro Velis (Teatro Foro Lucerna). Dentre outras dramaturgias que assinou recentemente, estão “Memórias de uma Manicure”, 2023, direção René Guerra; “FEIO”, 2023, direção Helena Marques; e “Constituição, o ovo ou a galinha?”, 2022, idealização de Natasha Corbelino. Ao longo de 2022m foi professora de dramaturgia na Escola Sesc de Artes Dramáticas. Dramaturgias já publicadas: “ROSE”, pela Editora Cobogó, “Hamlet, candidato”, pela Cândido Editora e “Paco e o Tempo”, pela Editora Escola Sesc. Está entre os 100 nomes que integram o Portal de Dramaturgia Brasileira:
Ficha técnica
Texto e Atuação: Cecilia Ripoll
Direção Artística: Juliana França e Cecilia Ripoll
Realização: Grupo Gestopatas, em interlocução com Ademir de Souza (na pesquisa com gesto e dramaturgia), Julia Pastore (na pesquisa com voz e sonoridades), Tarcinara Vieira (na pesquisa de figurino e na produção executiva) e Arthur Pimenta (na pesquisa de estruturação das compreensões). Interlocuções convidadas: Marcela Andrade (na pesquisa com a poética das imagens), Amanda Paiva (na pesquisa com os tempos e o humor) e Clarisse Zarvos (na pesquisa com a presença na cena).
Iluminação: Tayná Maciel
Fotografia: Thaís Grechi
Assessoria de Imprensa: Racca Comunicação (Rachel Almeida)
Idealização: Cecilia Ripoll
Serviço
Espetáculo: Fantasiosa exposição da palavra
Temporada: 2 e 3 de novembro de 2024
Local: Ateliê Alexandre Mello
Endereço: Rua Alice, 1.658/201 – Laranjeiras
Telefone: (21) 99255-9036 / (21) 98272-0499
Dias e horários: sábados, às 20h30, e domingo, às 19h30. A casa abre 30 minutos antes das sessões e o bar funciona antes e depois do espetáculo.
Ingressos: 50 (inteira) e 25 (meia-entrada).
Capacidade: 34 pessoas
Duração: 55 minutos
Classificação etária: 12 anos
Venda de ingressos: https://www.sympla.com.br/evento/fantasiosa-exposicao-da-palavra/2699637?
Observações sobre o local do evento: O Ateliê Alexandre Mello fica na subida da Rua Alice, ponto de referência: bem em frente ao Residencial Redentor – lar de idosos. Pode-se subir de uber, táxi ou ônibus, linhas 133 e 507, saindo do Largo do Machado. O local não conta com estacionamento próprio, estando a cargo de quem for de carro estacionar na calçada. Para acessar o andar é necessário subir um lance curto de escadas.