Um incêndio de grandes proporções em uma fábrica de fantasias na zona norte do Rio de Janeiro, ocorrido na quarta-feira (12), reacendeu o alerta sobre as condições precárias de trabalho na cadeia produtiva do carnaval. O incidente deixou 21 pessoas hospitalizadas, algumas em estado grave, e comprometeu os desfiles de escolas da Série Ouro, como Império Serrano, Unidos da Ponte e Unidos de Bangu.
A fábrica operava em ritmo intenso para atender aos prazos do carnaval, com trabalhadores realizando turnos exaustivos e, em alguns casos, dormindo no local. Segundo a Polícia Civil, o incêndio pode ter sido causado por uma sobrecarga na rede elétrica improvisada.
Falhas estruturais e falta de fiscalização
A engenheira de segurança do trabalho Cláudia Morgado, da UFRJ, destacou que a estrutura do galpão favoreceu a propagação das chamas e dificultou a fuga das vítimas. Fatores como a falta de compartimentação do espaço, a presença de materiais altamente inflamáveis e a ausência de medidas de segurança, como escadas enclausuradas e portas corta-fogo, contribuíram para a gravidade do incidente.
Carnavalescos experientes, como Leandro Vieira e Milton Cunha, reforçam que a precariedade dos locais de trabalho no grupo de acesso é um problema histórico. Muitos barracões funcionam em condições inseguras, sem ventilação adequada, com sistemas elétricos comprometidos e expostos a riscos de incêndio e alagamentos.
Medidas para aumentar a segurança
Após o incêndio, o prefeito Eduardo Paes anunciou que pedirá à Liga das Escolas de Samba do Grupo de Acesso informações sobre os locais de produção de fantasias e alegorias, para intensificar a fiscalização. Além disso, defendeu a construção da Cidade do Samba 2, que abrigaria os barracões das escolas da Série Ouro, nos moldes da estrutura já existente para o Grupo Especial.
A fiscalização das condições de trabalho também está na mira do Ministério Público do Trabalho e do Ministério do Trabalho, que investigam denúncias de violações das leis trabalhistas, incluindo casos de condições análogas à escravidão. Segundo o jornalista e pesquisador Fábio Fabato, muitos trabalhadores da indústria do carnaval enfrentam jornadas exaustivas, sem direitos básicos garantidos.
Profissionalização da cadeia produtiva do carnaval
Especialistas defendem que escolas de samba e ligas carnavalescas exijam condições seguras de seus fornecedores, adotando protocolos semelhantes aos de grandes empresas. Além disso, a engenheira Cláudia Morgado ressalta que a crescente utilização de materiais sintéticos, como plásticos e colas inflamáveis, exige um planejamento ainda mais rigoroso para evitar tragédias.
O Ministério do Trabalho já realiza fiscalizações preventivas no Sambódromo e busca ampliar sua atuação junto à prefeitura e outros órgãos para garantir um ambiente mais seguro para os trabalhadores do carnaval. A expectativa é que essas ações resultem em mudanças estruturais e na valorização daqueles que fazem da festa uma das maiores manifestações culturais do país.