Ao longo das décadas, os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro testemunharam uma evolução constante, desde a inauguração do Sambódromo há 40 anos até iniciativas recentes como a reciclagem do lixo na Marquês de Sapucaí. Em 2024, uma nova fronteira de inovação se destacou com a ênfase na iluminação cênica. Embora já presente desde 2023, essa abordagem encontrava resistência. Contudo, no carnaval deste ano, com mais escolas adotando esse recurso, a iluminação cênica brilhou na avenida.
O uso da tecnologia ainda gera debates. Tarcísio Zanon, carnavalesco campeão deste ano com a Viradouro, vê a iluminação como uma ferramenta para criar a magia do espetáculo.
“Agora, com essa nova implementação, podemos dar alma ao momento que queremos retratar. Acredito que a luz pode enriquecer a arte de fazer carnaval nas escolas de samba. No entanto, ela não deve descaracterizar o que foi construído ao longo do tempo. O carnaval não é apenas uma parada iluminada; é uma forma de arte que engloba brilho, volume, exagero, glamour e beleza. Portanto, o detalhismo presente no carnaval precisa ser preservado. Não pode haver momentos em que tudo se apaga aleatoriamente e permanece assim por muito tempo”, explica.
Para Luiz Antônio Simas, historiador especializado em carnaval carioca, a iluminação cênica é positiva, mas deve ser usada com cautela.
“O uso da iluminação cênica pode ser comparado à frase famosa ‘o remédio e o veneno moram na mesma folha’, que faz parte da tradição cultural dos orixás. O problema não é a iluminação cênica em si, e sua salvação não depende dela. O essencial é como ela é utilizada”, observa.
Fábio Fabato, jornalista e historiador, também apoia a iluminação cênica, desde que seja aplicada de forma ponderada.
“A luz é um recurso importante, agregando valor ao espetáculo, mas não deve comprometer os critérios de avaliação. Ela precisa ser cuidadosamente planejada para enriquecer o espetáculo, sem prejudicar a apreciação das fantasias e alegorias pelos jurados. É um elemento cênico que valoriza o produto e pode ser explorado de maneira eficaz no futuro”, destaca.
Segundo Fabato, a Comissão de Frente da Mocidade Independente utilizou a iluminação cênica de forma exemplar, interagindo com o público de maneira inovadora durante o desfile.
“A comissão da Mocidade soube utilizar esse recurso de maneira eficiente, promovendo uma interação entre a escola e a plateia sem comprometer a visão do público. É um exemplo de como a iluminação pode ser uma aliada, contando a história de forma mais envolvente”, afirma.
Planejamento e Tecnologia: O Bastidor do Brilho
A iluminação cênica, que se destacou nos desfiles do Grupo Especial deste ano, conta com um sistema composto por 570 refletores, sendo 510 direcionados para a pista de desfiles. Além disso, há três movings light, que projetam luzes coloridas sobre qualquer elemento na avenida, e três refletores de LED do tipo RGBW. O sistema inclui ainda uma infraestrutura de 24 quilômetros de fibra óptica e 14 câmeras de visualização na sala de controle instalada no setor 10 do Sambódromo.
De acordo com a Rioluz, o local possui duas mesas de controle operadas por técnicos com experiência em grandes shows, como os de Paul McCartney e Coldplay.
A sala de controle foi projetada por meio da Parceria Público-Privada (PPP) de iluminação pública da Prefeitura do Rio de Janeiro, envolvendo a Rioluz e a subconcessionária Smart Luz. Um investimento de R$ 18 milhões foi destinado a essa tecnologia, integrando os projetos especiais do contrato da PPP.
“A iluminação cênica neste carnaval foi verdadeiramente espetacular, elevando os desfiles das escolas de samba a um novo patamar. Foi gratificante ver as luzes e sentir a reação positiva do público. No ano passado, alguns carnavalescos ainda relutavam em usar essa tecnologia, mas as escolas que ousaram foram recompensadas, alcançando altas pontuações no quesito Comissão de Frente”, afirma o presidente da Rioluz, Eduardo Feital.
Feital revela que, nos últimos 40 dias que antecederam o carnaval, a empresa responsável pelo sistema colaborou com as escolas para realizarem testes.
“Ao entregarmos toda a iluminação à empresa operadora, convidamos todas as agremiações a testarem o sistema. Cada escola teve a oportunidade de estudar e visualizar, por meio de dispositivos 3D, como seria o desfile e como utilizar essa tecnologia”, destaca.
Para Tarcísio Zanon, esse período de testes foi fundamental para que as escolas compreendessem melhor a tecnologia.
“Este ano, tivemos mais tempo para nos familiarizarmos com o sistema. Acredito que a utilização da iluminação cênica deve ser tratada com cuidado e estudada minuciosamente pelos profissionais, visando encontrar um equilíbrio em sua aplicação”, comenta.
“Com esse sistema, os desfiles se tornaram ainda mais deslumbrantes. Essa tecnologia é um legado para as escolas de samba e para o carnaval do Rio de Janeiro. Todos saem ganhando, desde o público até aqueles que fazem parte desse grandioso evento”, conclui o presidente da Rioluz, destacando a expectativa para os próximos anos e a apresentação.