O julgamento dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, acusados do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, foi retomado na manhã desta quinta-feira (31) no 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro. Presidido pela juíza Lucia Glioche, o julgamento teve início no dia anterior e conta com nove testemunhas, incluindo familiares das vítimas e investigadores.
Em 14 de março de 2018, Marielle Franco foi morta em uma emboscada no bairro do Estácio, Zona Norte do Rio de Janeiro. Após um evento na Casa das Pretas, a vereadora foi surpreendida por treze disparos enquanto estava acompanhada de sua assessora e do motorista Anderson Gomes. Apenas a assessora sobreviveu ao ataque.
Ronnie Lessa e Élcio Queiroz estão detidos desde 2019 e são julgados por videoconferência, cada um em prisões de segurança máxima em São Paulo e Brasília. Durante os depoimentos desta semana, familiares das vítimas falaram sobre o impacto devastador dos assassinatos em suas vidas. Ágatha Arnaus, viúva de Anderson, relatou o sofrimento emocional do filho, que sofre com uma condição de saúde e sente profundamente a ausência do pai.
Detalhes das Investigações e Obstáculos Enfrentados
As investigações apontaram que Lessa e Queiroz usaram um veículo com placa clonada no crime, identificado como um Chevrolet Cobalt prata. A análise minuciosa incluiu gravações de câmeras e tecnologia OCR para rastrear o trajeto dos assassinos, que teria sido prejudicado pela divulgação da placa na imprensa. Além disso, segundo o policial civil Carlos Alberto Paúra Júnior, as empresas Google e Apple se recusaram a fornecer dados de GPS, o que dificultou o rastreamento dos suspeitos.
Motivação e Declarações dos Acusados
Os réus alegaram que interesses fundiários ligados a milícias motivaram o assassinato de Marielle Franco. Ronnie Lessa, que detalhou como aceitou o contrato para executar o crime, mencionou que Marielle se tornara um “obstáculo” para os interesses de milicianos em loteamentos irregulares na Zona Oeste do Rio. Élcio Queiroz afirmou que inicialmente foi convidado por Lessa apenas para dirigir, mas que descobriu o real objetivo do crime quando Lessa pegou uma submetralhadora para executar o ataque.
O julgamento envolve outros réus em processos paralelos, como os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, considerados mandantes do crime, e o delegado Rivaldo Barbosa, suspeito de interferir nas investigações.
Com o júri formado por sete homens, o Ministério Público busca a condenação máxima para Lessa e Queiroz, que pode alcançar até 84 anos de prisão. O processo se aprofunda nos detalhes de um crime que abalou o país, envolvendo milícias, interesses políticos e o legado de Marielle Franco na luta pelos direitos humanos.