Nos últimos 20 anos, 1.734 jornalistas foram mortos em função de suas atividades profissionais, de acordo com dados divulgados pela organização Repórteres sem Fronteiras (RSF). Somente em 2024, foram registrados 54 assassinatos de jornalistas, o maior número em zonas de conflito armado na história recente.
Segundo Artur Romeu, diretor da RSF para a América Latina, muitos desses crimes não foram “vítimas colaterais”, mas ataques direcionados. “Os jornalistas são alvos estratégicos, usados como reféns ou silenciados para dificultar a cobertura dos conflitos”, afirmou.
Conflitos e Países de Risco
O relatório da RSF apontou a Palestina como o local mais perigoso para jornalistas em 2024, com 16 mortes durante o conflito entre Israel e Hamas. Outros países em destaque incluem Paquistão (7 mortes), Bangladesh (5), México (5), e Sudão (4).
Em relação a reféns e desaparecidos, a organização contabilizou 55 jornalistas sequestrados, sendo 38 casos na Síria, onde o Estado Islâmico permanece como o principal agente sequestrador. Além disso, 95 profissionais estão desaparecidos, com maior concentração de casos no México (30).
Prisões de Jornalistas
Outro dado alarmante do relatório é o aumento no número de jornalistas presos: 550 em 2024, um crescimento de 7,2% em relação ao ano anterior. A China lidera com 124 encarcerados, seguida por Birmânia (61) e Israel (41). Muitos desses profissionais permanecem detidos sem julgamento.
Desafios na Era Digital
O relatório também abordou as crescentes ameaças digitais, especialmente no Brasil. Durante o período eleitoral, foram registradas mais de 37 mil postagens ofensivas contra jornalistas. A RSF defende a regulamentação de plataformas de redes sociais como forma de responsabilizar empresas pelo conteúdo disseminado.
“Esse cenário de ataques digitais não significa que o Brasil seja um país seguro para o jornalismo”, alerta Artur Romeu. Ele enfatiza que o ambiente virtual se tornou uma extensão das ameaças físicas.
Instabilidade Global e Impactos na Imprensa
A RSF projeta que conflitos no Oriente Médio e mudanças políticas, como o possível retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, podem agravar o cenário para jornalistas. “Trump adota uma retórica hostil que coloca a imprensa como inimiga do povo, e essa postura é uma ameaça direta à liberdade de imprensa”, disse Romeu.
A organização conclui que o aumento de conflitos armados, somado ao crescimento da instabilidade política global, criará desafios ainda maiores para a segurança e liberdade dos jornalistas nos próximos anos.