Marisqueiras e pescadoras de Alagoas, impactadas pelo crime ambiental da Braskem, se reuniram nesta quinta-feira (20) com a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, para solicitar apoio do governo federal na recuperação de suas condições de trabalho e renda. O afundamento de bairros inteiros em Maceió, causado pela exploração de sal-gema, afetou cerca de 60 mil pessoas, incluindo aquelas que dependem da pesca do marisco para sobreviver.
A presidente da Federação dos Pescadores e Aquicultores de Alagoas (Fepeal), Maria Silva Santos, destacou que muitas trabalhadoras foram forçadas a se deslocar para locais distantes, a mais de duas horas de suas áreas tradicionais de pesca. Além da perda de território e moradia, as marisqueiras relataram contaminação da água e redução da renda familiar.
“Sofremos vários tipos de violência, incluindo racismo ambiental, além da poluição dos rios e mares”, afirmou Ana Paula Santos, representante da Rede de Mulheres Pescadoras da Costa dos Corais.
Tradição e Desafios da Categoria
A ministra Cida Gonçalves garantiu que o governo buscará soluções, envolvendo outros ministérios, para acelerar respostas às demandas das pescadoras. Segundo Maria Silva Santos, muitas mulheres escolheram essa profissão por tradição familiar e enfrentam dificuldades para manter a atividade.
Atualmente, Alagoas conta com 20.643 pescadores artesanais, sendo 58% mulheres, de acordo com o Sistema de Registro Geral da Atividade Pesqueira (2023). A maioria dessas trabalhadoras tem renda inferior a um salário mínimo, e um novo levantamento está em andamento para dimensionar a realidade da categoria.
Impacto das Mudanças Climáticas na Pesca
Além dos problemas ambientais causados pela Braskem, as mudanças climáticas têm dificultado a pesca. A representante das marisqueiras destacou a redução do sururu, devido à alteração do regime de chuvas, que torna a água mais salobra e afeta a reprodução da espécie.
A secretária estadual da Mulher e dos Direitos Humanos, Maria Silva, afirmou que as políticas públicas voltadas para essas trabalhadoras devem considerar dignidade, segurança, saúde e educação para garantir que possam sustentar suas famílias.
Casa da Mulher Brasileira e Combate à Violência de Gênero
Durante a visita a Alagoas, a ministra Cida Gonçalves assinou com o governador Paulo Dantas o contrato para a construção da Casa da Mulher Brasileira (CMB) de Maceió, um investimento de R$ 19 milhões. A unidade oferecerá serviços de acolhimento, apoio psicológico, delegacia especializada, juizado, Ministério Público, Defensoria Pública e assistência para autonomia econômica das mulheres.
O governo estadual também formalizou a adesão ao Pacto Nacional de Prevenção aos Feminicídios (PNPF), lançado em 2024. “Precisamos unir forças para promover mudanças culturais e fortalecer políticas públicas para combater a violência contra as mulheres”, afirmou a ministra.
A secretária Maria Silva destacou que a Casa da Mulher Brasileira será um refúgio para mulheres em situação de vulnerabilidade, oferecendo suporte para que possam reconstruir suas vidas.
Com o compromisso do governo federal, as marisqueiras esperam que suas reivindicações sejam atendidas e que possam retomar suas atividades com dignidade e segurança.