A falta de informação sobre opções de tratamento para pessoas trans tem levado muitas delas a se automedicarem. Para combater esse problema, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) criou um guia com unidades de saúde especializadas no atendimento dessa população. Desde 2008, o Sistema Único de Saúde oferece procedimentos como terapia hormonal e cirurgias de redesignação sexual. No entanto, a diretora da SBEM, Karen de Marca, afirma que há pouca divulgação sobre esses serviços, o que leva muitas pessoas trans a desconhecerem suas opções de tratamento e colocarem sua saúde em risco.
“Não saber como é o caminho faz com que pessoas acabem utilizando medicações por conta própria. A maioria aprende com outros usuários. O que eles me dizem é: ‘entrei no site, entrei no YouTube, entrei no Instagram e tinha uma pessoa falando como usava e eu usei”, relata a médica. “Os riscos são as complicações com altas doses, pessoas com trombose, com infarto do miocárdio, complicações hepáticas e complicações nos procedimentos estéticos, que causam necroses”, acrescenta a endocrinologista, que coordena o Ambulatório Multiprofissional de Identidade de Gênero (AMIG) do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (IEDE) da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro.
De acordo com a diretora da SBEM, Karen de Marca, é comum que pacientes transexuais busquem medicações sem orientação médica devido à falta de informação ou ao excesso de demora para conseguir acessar a terapia adequada. Isso pode levar a situações de risco à saúde dessa população.
“Fazer no particular é caro, porque tem que fazer a medicação, tem que fazer muitas consultas. E a maior parte dessas pessoas teve muita dificuldade de se incluir socialmente, terminar os estudos, conseguir ascender profissionalmente, ter recursos para pagar uma consulta particular, e muitos não têm plano de saúde. Então, o tratamento fica muito caro e eles têm que ir para a fila do SUS. E a fila do SUS é muito grande, o que acaba fazendo com que busquem tratamento não reconhecidos e não orientados”.
A diretora da SBEM afirma que é comum pacientes trans buscarem tratamentos sem orientação médica devido à desinformação ou à longa espera para acessar a terapia hormonal e cirurgias de redesignação sexual. Ela destaca que a espera pode chegar a 10 anos em algumas localidades, e defende a necessidade de investimentos para valorizar e atrair mais especialistas para essa área.
O guia divulgado recentemente pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) contém informações da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) e da empresa ASA Saúde Educacional, e recomenda o uso do Mapa da Cidadania da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT) para orientar profissionais de saúde e evitar a automedicação na população trans.
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) lançou uma campanha na quarta-feira passada (25) para sensibilizar os especialistas sobre a importância do cuidado às pessoas trans e fornecer informações sobre como acessar a terapia hormonal para a transição de gênero. Essa campanha foi lançada para celebrar o Dia da Visibilidade Trans, que será comemorado no dia 29 de janeiro. A SBEM também disponibiliza um guia com as unidades de saúde especializadas no atendimento à população trans, baseado nas informações da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) e da empresa ASA Saúde Educacional.
“Falta um portal oficial que diz exatamente o que tem que ser feito se você mora em tal região, para qual telefone você pode ligar. Isso vale para o usuário e para o profissional de saúde, porque a maioria dos profissionais de saúde não presta esse tipo de assistência”, diz Karen de Marca. “A gente recebe muitas mensagens de pessoas muito perdidas e sem saber como fazer”.
Atendimento no SUS
Desde 2008, o Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil oferece a pessoas trans procedimentos como terapia hormonal para afirmação de gênero, cirurgias de redesignação sexual e acompanhamento multiprofissional, que inclui a participação de médicos, psicólogos e assistentes sociais.
Desde agosto de 2008, o Sistema Único de Saúde do Brasil inclui a oferta de procedimentos para pessoas trans, tais como terapia hormonal para afirmação de gênero, cirurgias de redesignação sexual e acompanhamento multiprofissional, incluindo médicos, psicólogos e assistentes sociais. Inicialmente, esses tratamentos eram exclusivamente para mulheres em transição de gênero, mas desde novembro de 2013, passou a incluir também homens que desejam realizar o processo.
De acordo com o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, desde agosto de 2008, é oferecido à população trans procedimentos como terapia hormonal para afirmação de gênero, cirurgias de redesignação sexual e acompanhamento multiprofissional, incluindo médicos, psicólogos e assistentes sociais. Em um primeiro momento, os procedimentos eram voltados somente para pessoas trans femininas, mas, desde novembro de 2013, passaram a incluir também pessoas transmasculinas. O acesso ao acompanhamento ambulatorial, com processo terapêutico e hormonização, é permitido a partir dos 18 anos de idade. Já as cirurgias de redesignação sexual só estão disponíveis para maiores de 21 anos.
A partir de agosto de 2008, o Sistema Único de Saúde do Brasil oferece procedimentos para pessoas trans, incluindo terapia hormonal para afirmação de gênero, cirurgias de redesignação sexual e acompanhamento multiprofissional, com profissionais de saúde, como médicos, psicólogos e assistentes sociais. Inicialmente, o tratamento era oferecido somente para mulheres em transição de gênero, mas, desde novembro de 2013, também passou a incluir homens. A idade mínima para acesso ao acompanhamento ambulatorial no SUS com processo terapêutico e hormonização é de 18 anos, enquanto as cirurgias de redesignação sexual só são previstas para maiores de 21 anos. Na rede privada e suplementar, a Resolução 2265/2019 do Conselho Federal de Medicina prevê que a terapia hormonal para afirmação de gênero possa ser iniciada aos 16 anos, e a terapia de bloqueio hormonal pode ser feita a partir da puberdade, com autorização do responsável legal e da equipe médica responsável pelo acompanhamento.
Segundo Karen de Marca, para acessar os serviços de atendimento especializado do SUS, é necessário procurar uma clínica da família ou a Secretaria Municipal de Saúde de cada cidade.
“A pessoa precisa ser avaliada por um médico, enfermeiro ou um profissional da saúde mental que dê um encaminhamento dizendo que ela deseja fazer adequação de gênero. E vale ressaltar que para passar por essa transição de gênero não necessariamente é obrigatório fazer a cirurgia ou terapia hormonal, mas é necessária uma rede de cuidados”, acrescenta.