Maria da Conceição Tavares, referência do pensamento econômico desenvolvimentista, faleceu neste sábado aos 94 anos, em Nova Friburgo, onde vivia com sua família. A causa da morte não foi divulgada. Ela deixa dois filhos, Laura e Bruno, dois netos, Ivan e Leon, e um bisneto, Théo.
Maria da Conceição Tavares destacou-se pela defesa de uma sociedade mais justa e solidária, formando várias gerações de economistas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e na Universidade de Campinas (Unicamp). Entre seus alunos, destacam-se a ex-presidente Dilma Rousseff e o ex-senador José Serra.
Nascida em 1930 em Anadia, no distrito de Aveiro, Portugal, Maria da Conceição emigrou para o Brasil em 1954, durante a ditadura salazarista, estabelecendo-se no Rio de Janeiro. Naturalizou-se brasileira em 1957 e construiu uma longa carreira influenciada por Celso Furtado, Caio Prado Jr. e Ignácio Rangel.
No X, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a perda: “Tive o prazer e a honra de conviver e conversar muito com minha amiga ao longo dos anos, debatendo o Brasil e os nossos desafios sociais e econômicos no Instituto Cidadania, em conversas no Rio de Janeiro ou em viagens pelo Brasil. Nesse momento de despedida, meus sentimentos aos familiares, em especial aos filhos, aos muitos amigos, alunos e admiradores de Maria da Conceição Tavares”.
Maria da Conceição Tavares participou da elaboração do plano de metas do governo Juscelino Kubitschek e destacou-se nos estudos sobre substituição de importações, trabalhando na Comissão Econômica para América Latina (Cepal). Publicou centenas de artigos e dezenas de livros, incluindo o clássico “Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações no Brasil – Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro”, de 1972. Em 1998, recebeu o Prêmio Jabuti na categoria economia.
Nos últimos anos, ela ganhou popularidade entre os jovens nas redes sociais, com vídeos de entrevistas e aulas em que fazia discursos enérgicos sobre industrialização nacional. Criticava a política econômica do regime militar no Brasil e chegou a ser presa por 48 horas em 1974.
Maria da Conceição teve grande influência na elaboração do Plano Cruzado, no governo de José Sarney, e emocionou-se durante entrevista em rede nacional ao afirmar que o plano foi o primeiro programa anti-inflacionário a não prejudicar o trabalhador. Sempre buscou se posicionar, distanciando-se da neutralidade, sendo uma das principais conselheiras econômicas do PMDB no período pré-redemocratização. Após a morte de Ulysses Guimarães, filiou-se ao PT, pelo qual se elegeu deputada federal (1995-1999).
Neste ano, ela foi homenageada pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), onde trabalhou, no contexto do Dia Internacional da Mulher. “Ela foi muito importante para minha geração, para a luta pela democracia, para a discussão de um projeto nacional de desenvolvimento”, disse o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.