O Museu de Vida da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) oferece uma ampla variedade de atividades que permitem ao público mergulhar na visão e conhecimento dos indígenas da Aldeia Maracanã. Situada no bairro do Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro, essa aldeia urbana reúne pessoas de diversas etnias. A programação é diversificada, incluindo oficinas de grafismo corporal e tupi-guarani, contação de histórias, feira de artesanato e medicina da floresta, além de apresentações de cânticos.
Essas atividades fazem parte das celebrações dos 123 anos da Fiocruz e dos 24 anos do Museu da Vida, sendo todas elas organizadas em parceria com a Aldeia Maracanã.
“Pensar e planejar o evento com o museu tem sido uma troca de emoções, memórias e afetos. A todo instante, sentimos muito respeito à cultura e à espiritualidade dos povos originários”, diz Mônica Lima Tripuira Kuarahy Manaú Arawak, professora da Universidade Pluriétnica Indígena Aldeia Maracanã, doutora em biologia e servidora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e da Secretaria de Estado de Educação.
Na quinta-feira (25), um encontro com professores foi realizado para apresentar as propostas educativas do Museu da Vida e compartilhar o trabalho colaborativo realizado com as escolas. Um dos destaques desse encontro foi a participação de Mônica e Amanda Goytacá, educadora popular e terapeuta natural da Aldeia Maracanã, no painel intitulado “Universidade Pluriétnica Indígena Aldeia Maracanã na Perspectiva do Bem-Viver: Medicina da Floresta”. O evento abordou temas relacionados à presença de povos indígenas em contextos urbanos e à construção coletiva de uma universidade indígena.
A universidade, localizada dentro da Aldeia Maracanã, foi concebida pelos indígenas como um espaço dedicado à preservação, estudo, pesquisa, ensino e difusão das culturas originárias do Brasil e de outras regiões da América. “Existe para cultivar e promover o compartilhamento de conhecimentos tradicionais, além de desenvolver a consciência sobre a nossa cultura e valorizá-la, ajudando a criar um sentimento de pertencimento”, explicou Mônica, em entrevista.
Segundo a professora, o sucesso individual é supervalorizado na sociedade atual, reduzindo a força do coletivo no dia a dia. Ela disse que, com isso, o desequilíbrio entre “o eu e o nós”, tem como sintomas as dificuldades de comunicação, competição a todo momento, desigualdade social, depressão, violência, emergência climática, entre outros.
A professora ressaltou ainda que, nas comunidades indígenas, onde grande parte das atividades é compartilhada, aprendem-se valores para uma melhor convivência comunitária. “Valorizamos a identidade cultural. Ter consciência sobre a própria cultura e valorizá-la ajuda a criar um sentimento de pertencimento. Sabemos viver em comunidade porque sabemos que somos indígenas”. Para a educadora, os não indígenas, ao negligenciar sua origem, perdem-se e trilham um caminho competitivo, no qual tentam ser melhores do que os outros.
De acordo com Mônica, o evento possibilita a abordagem de aspectos da medicina da floresta e da cosmovisão indígena. “Penso que as pessoas do museu estão se aprofundando neste resgate ancestral a cada contato conosco”, ressaltou. A professora ressaltou que os visitantes podem, inclusive, vivenciar a espiritualidade dos povos da floresta, pois é na floresta que reside toda ciência e vida.
“Saúde tem a ver com o nosso bem viver,. Então, combinar os dois saberes, a ciência acadêmica e a ciência ancestral dos povos originários é uma combinação que vai nos levar a cura – essa conexão nos faz retornar a uma saúde que é a essência, uma saúde preventiva”, afirmou.
Mônica destacou a expectativa de que o encontro traga desdobramentos futuros, divulgando aos visitantes as mais urgentes pautas indígenas e ajudando na formação de parcerias dentro e fora da Fiocruz em questões como o combate às violações e violências contra os povos originários. A professora ressaltou ainda questões como a demarcação da Aldeia Maracanã e da Universidade Pluriétnica Indígena e a necessidade de mais atenção à Casa do Índio, localizada na Ilha do Governador, na zona norte do Rio de Janeiro.
Museu da Vida
Criado em 1999, o Museu da Vida fica no campus da Fiocruz em Manguinhos, zona norte do Rio. Trata-se de um centro dedicado à preservação da memória da Fiocruz e às atividades de divulgação científica, pesquisa, ensino e documentação da história da saúde pública e das ciências biomédicas no Brasil.
O evento que celebra o aniversário do museu termina neste sábado (27). Toda a programação, das 9h às 16h, tem entrada gratuita, mas é necessária inscrição prévia para as atividades, com exceção de amanhã, quando o museu está aberto ao público em esquema de visitação livre.