A figura do gênio incompreendido acompanhou grandes nomes da arte mundial. Os conflitos emocionais, a vida desregrada, os atos passionais, os distúrbios psiquiátricos e as dificuldades financeiras estão na biografia de personalidades que entraram para a posteridade. A possibilidade de estabelecer conexões entre essas vidas turbulentas e a sociedade contemporânea motivou o dramaturgo Rômulo Pacheco a criar uma trilogia dos artistas. Com direção de Ticiana Studart, o espetáculo “Um coração de Van Gogh”, em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim até domingo, é inspirado em trechos da vida do pintor holandês e a segunda parte desta trilogia, iniciada com a peça “Saliva de Rimbaud” (2015).
“Apesar das dificuldades que tiveram, e não foram poucas, esses artistas conseguiram projetar suas vozes em alto e bom som, contribuindo assim de forma visceral para a construção da sensibilidade e consciência humanas. Eles foram reconhecidos artisticamente apenas depois da morte, passando por toda a sorte de acontecimentos, muitos dos quais, extremamente desfavoráveis”, observa o autor.
Como um dos precursores do expressionismo, Van Gogh criou telas de tons vibrantes e imagens distorcidas. Certo desconforto provocado por essas obras inspiram o clima do espetáculo, que aborda as relações entre arte, sonho e distúrbios psiquiátricos. “Quero fazer uma reflexão sobre a neurodiversidade. O autor procurou expor essa questão por meio do personagem Thuja, que tem as características e alma de Van Gogh. Junto a alternância de humor da personagem, conhecemos quem o cerca, e percebemos como é fácil fazer mal a um divergente”, conta Ticiana
A peça acompanha a vida de Thuja (Daniel Ericsson), pintor francês da belle époque, miserável, maníaco-depressivo e que ama demais. Um gênio que vive à margem da sociedade. Faz uso abusivo de álcool e drogas. Está em crise, às voltas com o tratamento psiquiátrico da época. Falta-lhe tudo: inspiração, amor, equilíbrio emocional e dinheiro. Só não lhe falta sexo, que consegue pagando prostitutas com o dinheiro de Otto (Xando Graça), um célebre homem das artes que, encantado com a sua obra, decide ser seu mecenas. Vive em um apartamento alugado por Otto, de quem depende financeiramente e em quem deposita a esperança de alcançar visibilidade e, principalmente, o dinheiro necessário para abandonar a vida miserável. Mas Thuja põe tudo a perder quando cisma com Sylvie (Renata Gasparim), uma moça leviana e ambiciosa, e se envolve com Lua (Vitória Furtado), uma prostituta.
“Tudo gira em torno de um artista profundamente tocado pela arte e pelos distúrbios psiquiátricos. Um artista que se relaciona com o mundo através da alteridade de seu olhar excêntrico, incomum e, tragicamente, incompreendido”, explica o autor Rômulo Pacheco. “Às vezes, nosso ser atrapalha a funcionalidade da vida. Talvez seja porque é dessa angústia infinda que saem as maiores obras… Um caso a se estudar”, completa Ticiana.
Sinopse
Thuja, pintor francês da belle époque que vive à margem da sociedade, recebe a ajuda de um mecenas para progredir na carreira, ao mesmo tempo em que se envolve com duas mulheres.
Sobre Rômulo Pacheco
Nasceu no Rio de Janeiro, em 1975. É poeta, letrista, dramaturgo, roteirista e ator. Artista híbrido, no cinema, dirigiu e roteirizou o curta metragem “Ernesto Ernesta Carmem” e o média-metragem “Delicadeza perdida”; atuou no longa-metragem “Os Suicidados”, sobre a vida e a obra de Vincent Van Gogh e Antonin Artaud, tendo interpretado este último. Participou, ainda, como ator, dos filmes de curta-metragem, “Abismo da alma”, “A Flor da Tela”, “O Poeta pela Mão”, “Quimera”, entre outros. No teatro, atuou em mais de 15 peças, de autores como William Shakespeare, Frank Wedekind, Bob Fosse, Thornton Wilder, Friedrich Dürrenmatt, Dias Gomes etc. Escreveu, entre outras peças, “Sonhos de papel” e “Nem que eu morra por isso”, além da trilogia “Saliva de Rimbaud”, “Um Coração de Van Gogh” e “Artaudiânus”. Fez o roteiro e a pesquisa musical do programa de televisão “Do som à arte”, documentário dedicado a difundir a música popular brasileira. Letrista, tem parcerias com Dominguinhos, Seu Jorge, Bernardo Lobo, Úrsula Corona, Bruno Alexander, Daniel Gonzaga e outros. Lançou seu primeiro livro de poemas, intitulado “Eletrochoques”, em dezembro de 2022, e escreve com Ticiana Studart a série “A Casa Azul”; tendo também auxiliado a atriz Camilla Amado a escrever sua autobiografia.
Sobre Ticiana Studart
Atriz, produtora e diretora de teatro. Ticiana é Bacharel em Artes Cênicas e pós-graduada em direção. Carioca, com raízes cearenses, Ticiana estudou no teatro O Tablado e começou sua carreira como atriz na TV Globo, em 1979. Atuou em teatro, cinema e TV, antes de se mudar por quase quatro anos para Nova Yorque. Lá iniciou seus estudos no H.B Studio, tornando-se discípula de Uta Hagen de quem, ainda hoje, aplica o método. Estudou com F. Murray Abrahan, Geraldine Page e participou do Director’s Company, onde encenou Yerma, no Staret Theatre, Nova York. Fez também assistências de direção no Public Theatre. Ao retornar para o Brasil, encenou “Delicadas Torturas”, que rendeu o Molière para Paulo José e prêmios para as atrizes Zezé Polessa e Lilia Cabral. Depois seguiu dirigindo e produzindo diversos espetáculos. São mais de 23 peças profissionais e 40 peças teatrais pela CAL onde faz parte do corpo docente há 24 anos. Ticiana é autora do livro “Fora do Normal”, publicado pela Record.
Sobre Daniel Ericsson
Ator formado pela CAL em 2015. Atuou no longa “Querido embaixador”, de 2017, dirigido por Luiz Fernando Goulart. No teatro, foi assistente de direção em “Amargo Fruto – A vida de Billie Holiday” e representou Bukowski na peça “Bukowski – Bicho Solto no Mundo”. Ministra oficinas de interpretação no Teatro Municipal de Cabo Frio e ministra aulas eletivas de teatro numa escola cabofriense. Desenvolve uma pesquisa intitulada “teatro do vômito” com outros três atores. O ator é sueco de naturalidade e brasileiro nacionalizado.
Sobre Vitória Furtado
É atriz, formada pela Faculdade de Artes Cênicas Dulcina de Morais (Brasília – DF). Com mais de 10 anos de carreira, dentre seus principais trabalhos em teatro destacam-se “O Especulador” de Honorè de Balzac; “As Eruditas”, de Molière; “Aquilo que Serve de Lembrança”, de Gabriel Garcia Marques”; “A Farsa da Boa Preguiça”, de Ariano Suassuna; “A Casa de Bernarda Alba”, de Garcia Lorca. Em seu último trabalho, interpretou a personagem “Laura” na peça “No escuro ou o que faz uma mariposa sem uma lâmpada”, com texto de Jaú Sant’angelo e direção de Jefferson Almeida. Na TV, foi apresentadora do Programa Mosaico na TV Nacional / Brasília e atuou nas novelas “Malhação” e “Cheias de Charme”, ambas da TV Globo. Em 2010 abriu a produtora VITÓRIA PRODUÇÕES E EVENTOS, com realização do espetáculo “Pessoas Vivas”, com texto de Marcelo Sant`anna e direção de Ivone Hoffmann. Realizou e produziu o musical “Amargo Fruto – A vida de Billie Holiday”, com texto de Jaú Sant’angelo e Ticiana Studart e direção de Ticiana Studart e “No escuro ou o que faz uma mariposa sem uma lâmpada” com texto de Jaú Sant’angelo e direção de Jefferson Almeida.
Sobre Xando Graça
É um ator carioca de teatro, cinema e televisão. Estreia no teatro em 1983 e, a partir daí trabalha com os profissionais: Ricardo Kosovski, Carlos Wilson (Damião), Dudu Sandroni, Aderbal Freire Filho, Domingos Oliveira, Amir Haddad, José Celso Martinez Corrêa, Marcos Vogel, Adriana Maia, entre outros. Seus trabalhos mais recentes incluem o monólogo “Revisitando Tebas” que além de interpretar, codirigiu (2018), “Arlequim, Servidor de 2 Patrões”, representante do Brasil no II Festival Internacional de Teatro do BRICS, em Moscou, Rússia (2018). “Macbeth” (2019/20) e “A Plebe de Coriolano” (2022) todos dirigidos por Adriana Maia. No cinema, recentemente atuou em “Barba, Cabelo e Bigode”, de Rodrigo França e Letícia Priscos e “Eike – ou Tudo ou Nada”, de Dida Andrade e Andradina Azevedo (2022). Na TV, atuou nas novelas “Vale Tudo” de Gilberto Braga, dirigida por Denis Carvalho, “Coração de Estudante” de Emanuel Jacobina, dirigida por Alexandre Avancinni, “Senhora do Destino”, de Aguinaldo Silva, com direção de Wolf Maia, “Cidadão Brasileiro”, de Lauro César Muniz, com direção de Ivan Zettel. E nos seriados “Carga Pesada”, de Roberto Naar, “A Grande Família”, de Maurício Farias, “Magnifica 70”, de Cláudio Torres e Carol Jabor. “Um Contra Todos”, de Breno Silveira. “Sob Pressão”, de Andrucha Waddington, e “Impuros “, de Tomas Portella.
Sobre Renata Gasparim
É atriz e produtora. Graduada em atuação cênica na UNIRIO, e em atuação para cinema na AIC. Residente em São Paulo, participou das séries “Sessão de Terapia”, direção de Selton Mello (4ª e 5ª temporadas) e “Passaporte para a Liberdade”, direção de Jayme Monjardim (1ª Temporada); das novelas “Verão 90” (2019) e “Malhação” (2018); das cenas curtas “As mulheres que eu não fui” (2015), destaque do Festival da Guanabara, e “Amante Patológica” (2016), destaque do Festival de Curitiba – Mostra Fringe, ambas dirigidas por Carolina Caldas Nunes; participou de mais de uma dezena de peças desde 2009, com destaque para “O Estupro de Lucrécia”, dirigida por Antonio Ventura, que encerrou o festival Satyrianas 2017 e “Viagem a Nova York” (2018), do coletivo Teatro Número Três, com quem realizou ainda mais uma produção, Moermemória (2020) ambas dirigidas por Márcio Freitas. A atriz também participou de uma série de curta-metragens, entre eles “Berenice”, dirigido por Bruno Nunes, que a rendeu o prêmio CAW Cine de melhor atriz em 2021. Como produtora, está à frente da sucursal paulista do Instituto Internacional de Teatro da UNESCO no Brasil, que realizará o festival internacional NEAP Fest, com artistas de mais de 16 países, em novembro deste ano.
Serviço
Um coração de Van Gogh
Temporada: de 29 de julho a 20 de agosto
Teatro Laura Alvim: Av. Vieira Souto, 176 – Ipanema.
Telefone: (21) 2332-2016
Dias e horários: sexta e sábado, às 20h e domingo, às 19h.
Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia)
Lotação: 190 lugares
Duração: 1h30
Classificação: 16 anos
Venda de ingressos: bilheteria do teatro ou no site https://funarj.eleventickets.com