O Papa Francisco defende que é possível conceder bênçãos a uniões do mesmo sexo, desde que sejam aplicadas de forma restrita, avaliadas caso a caso e não confundidas com cerimônias de casamento heterossexuais. Ele ressalta que os pedidos de bênçãos, independentemente da orientação sexual dos casais – sejam eles homossexuais ou heterossexuais -, representam uma maneira de as pessoas se aproximarem de Deus em busca de uma vida melhor.
Cinco cardeais conservadores de diferentes partes do mundo, incluindo Ásia, Europa, África, Estados Unidos e América Latina, enviaram perguntas a Francisco em relação a um encontro global que começou no Vaticano em 4 de outubro. Essas perguntas incluíam dúvidas sobre a posição da Igreja em relação aos casais do mesmo sexo. A correspondência ocorreu em julho, e os cardeais divulgaram unilateralmente sua iniciativa, indicando sua insatisfação com as respostas de Francisco.
Entretanto, o Vaticano optou por publicar na segunda-feira, 2 de outubro, a resposta do Papa Francisco a esses cardeais sobre o tema da bênção de casais LGBTQI+.
Resposta de Francisco
A Igreja mantém a posição de que a atração pelo mesmo sexo não é considerada pecaminosa, mas os atos homossexuais são vistos como pecado.
Na resposta de sete pontos, o Papa Francisco reitera que a Igreja foi clara ao afirmar que o sacramento do matrimônio deve ser entre um homem e uma mulher, aberto à procriação, e que a Igreja deve evitar qualquer ritual ou rito sacramental que vá contra esse ensinamento.
No entanto, Francisco enfatiza a importância da “caridade pastoral” que deve guiar as decisões e atitudes da Igreja. Ele argumenta que a caridade pastoral exige paciência e compreensão, e os padres não devem se tornar juízes que simplesmente negam, rejeitam e excluem.
“Por isso, a prudência pastoral deve discernir adequadamente se existem formas de bênção, solicitadas por uma ou mais pessoas, que não transmitam uma concepção equivocada do casamento”, argumenta.
Até “porque quando se pede uma bênção, expressa-se um pedido de ajuda a Deus, um apelo para viver melhor, uma confiança em um pai que pode ajudar a viver melhor”, escreve.
Ele destaca que a prudência pastoral deve ser usada para discernir se há maneiras de conceder bênçãos que não transmitam uma concepção errônea do casamento, lembrando que pedir uma bênção é um apelo a Deus por ajuda para viver melhor.
Francisco reitera que os pedidos de bênçãos são uma forma pela qual as pessoas se aproximam de Deus, mesmo que alguns atos sejam considerados “objetivamente moralmente inaceitáveis”. No entanto, ele adverte que essas bênçãos não devem se tornar a norma nem receber aprovação geral das jurisdições da Igreja, como dioceses ou conferências episcopais nacionais.
Ele sugere que o assunto seja tratado caso a caso, reconhecendo que a vida da Igreja não pode ser estritamente limitada pelas normas.
É importante observar que Francisco já havia manifestado apoio às leis civis que estendem os benefícios legais aos cônjuges do mesmo sexo.
Avanço significativo
Francis DeBernardo, diretor executivo do New Ways Ministry, uma organização que promove o alcance da Igreja aos católicos LGBTQI+, expressou que, embora a resposta não tenha sido um “endosso pleno e sonoro” às bênçãos, foi extremamente bem-recebida.
Ele afirmou que a carta de Francisco representa um avanço significativo nos esforços para tornar os católicos LGBTQI+ mais bem-vindos na Igreja, ajudando a reduzir a marginalização.
Para DeBernardo, as palavras do papa indicam que a Igreja reconhece genuinamente que o amor sagrado pode existir entre casais do mesmo sexo, e que o amor desses casais reflete o amor de Deus.