
Neste sábado (9), a Beija-Flor de Nilópolis retorna à Marquês de Sapucaí para o Desfile das Campeãs com um enredo especial: “Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas”. Criado pelo carnavalesco João Vítor Araújo, o tema presta tributo a Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla, figura essencial na história da escola e um dos maiores diretores de carnaval do Brasil.
Com esta vitória, a agremiação celebra seu 15º título no carnaval carioca e reafirma a importância de Laíla, um mestre da harmonia e do desfile contemporâneo, cuja influência marcou várias gerações do samba.
A Trajetória de Laíla
Nascido em 1943 no Morro do Salgueiro, na Tijuca, Laíla iniciou sua jornada no mundo do samba ao criar uma escola mirim na comunidade. No Salgueiro, deu seus primeiros passos como diretor de harmonia, cargo no qual se tornaria referência. Sua chegada à Beija-Flor, em 1976, a convite do lendário Joãosinho Trinta, foi o início de uma parceria vitoriosa. Juntos, revolucionaram os desfiles e levaram a escola a inúmeras conquistas.
Ao longo de três períodos distintos na Beija-Flor (1975-1980, 1987-1992 e 1994-2018), Laíla acumulou nove títulos e ajudou a consolidar a escola como uma potência do carnaval. Seu talento também brilhou em outras agremiações, como Unidos da Tijuca, Grande Rio e União da Ilha, sempre com uma visão inovadora sobre a estruturação dos desfiles.
A Polêmica do Cristo Mendigo
Um dos momentos mais icônicos da carreira de Laíla ocorreu em 1989, com o enredo “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”. Na época, a escola pretendia levar à avenida um Cristo Mendigo, mas foi proibida pela Justiça após contestação da Igreja Católica. A solução encontrada foi cobrir a alegoria com um plástico preto e a frase “Mesmo proibido, olhai por nós”, criando um dos momentos mais emblemáticos do carnaval.
Neste ano, a Beija-Flor recriou a imagem, desta vez com a frase “Do Orum, olhai por nós”, em referência à proteção espiritual de Laíla sobre a escola.
O Mestre e o Pai
Luiz Cláudio Ribeiro, filho de Laíla e atual diretor-chefe da comissão de harmonia da Beija-Flor, destacou o legado do pai tanto no samba quanto na vida pessoal. Segundo ele, Laíla sempre foi um homem exigente, mas preocupado com o bem-estar da comunidade e da escola. “Ele ensinava através da prática, era um mestre que cobrava para que todos dessem o seu melhor”, afirmou.
A porta-bandeira Selminha Sorriso, que chegou à Beija-Flor pelas mãos de Laíla, também ressaltou a importância do mestre. “Fui formada na escola de Laíla. Ele nos ensinou o que é construir um desfile de escola de samba”, disse, emocionada.
A Consagração de um Ícone
Para João Vítor Araújo, carnavalesco responsável pelo enredo, o título da Beija-Flor é um reconhecimento definitivo da importância de Laíla para o carnaval. “O sambista venceu. O preto favelado venceu. Esse desfile será lembrado por décadas”, celebrou.
Com um desfile arrebatador, a Beija-Flor não apenas conquistou mais um campeonato, mas também garantiu que o nome de Laíla continue ecoando na história do carnaval. Seu legado, de dedicação, inovação e paixão pelo samba, permanecerá vivo na Sapucaí e no coração dos amantes da folia.