A Polícia Federal (PF) concluiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro esteve envolvido no desvio ou tentativa de desvio de mais de R$ 6,8 milhões em presentes, como esculturas, joias e relógios, recebidos de países estrangeiros durante seu mandato. A investigação identificou uma associação criminosa cujo objetivo era desviar e vender esses objetos de valor recebidos por Bolsonaro como presentes oficiais.
O relatório da PF, inicialmente indicando um valor de R$ 25 milhões, foi corrigido para R$ 6,8 milhões após um erro material na redação das conclusões. A correção veio horas depois do documento vir a público, e o valor correto foi confirmado em outros trechos do relatório.
A investigação apontou que os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal de Bolsonaro por meio de intermediários, sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores.
Bolsonaro e mais 11 pessoas foram indiciadas por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. O relatório foi entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) na sexta-feira (5), e o sigilo do documento foi derrubado nesta segunda-feira (8) pelo ministro Alexandre de Moraes. O processo agora será analisado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
A investigação também revelou a colaboração do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que fez um acordo de colaboração premiada. Entre os envolvidos está o general do Exército Mauro Lorena Cid, pai de Mauro Cid, que teria intermediado o repasse de US$ 68 mil em espécie ao ex-presidente.
Foram anexados aos autos comprovantes de saques bancários no Brasil e nos EUA, além de planilhas mantidas pelo assessor Marcelo Câmara, responsável pela contabilidade pessoal de Bolsonaro. A PF também detalhou o conjunto de presentes alvo de investigação, incluindo itens da marca Chopard, um kit de joias da marca Rolex e esculturas douradas.
Conjuntos de presentes investigados:
1. Conjunto 1: Itens masculinos da marca Chopard, incluindo uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um rosário árabe (“masbaha”) e um relógio, recebidos pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, após viagem à Arábia Saudita em outubro de 2021.
2. Conjunto 2: Kit de joias contendo um anel, abotoaduras, um rosário islâmico (“masbaha”) e um relógio da marca Rolex de ouro branco, entregue a Bolsonaro durante visita oficial à Arábia Saudita em outubro de 2019.
3. Conjunto 3: Escultura de um barco dourado e uma escultura de uma palmeira dourada, entregues a Bolsonaro em novembro de 2021, durante o Seminário Empresarial da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira em Manama, Bahrein.
O relatório teve alterações no título e no oitavo parágrafo após a correção feita pela PF, além da inclusão de novos parágrafos explicando a situação.