A Procuradoria-Geral da República (PGR) revelou que o ex-presidente Jair Bolsonaro incentivou deliberadamente a manutenção de acampamentos de seus apoiadores em frente a quartéis-generais para sustentar um cenário favorável à ruptura institucional. A acusação faz parte da denúncia apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (18), na qual Bolsonaro e outras 33 pessoas são responsabilizados pela tentativa de golpe de Estado em 2022.
Segundo a denúncia, Bolsonaro alimentava a expectativa de que as Forças Armadas interviriam para reverter o resultado das eleições, o que justificaria sua recusa em desmobilizar os manifestantes. O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, revelou em delação premiada que esse era um dos motivos pelos quais Bolsonaro mantinha a narrativa de que “algo iria acontecer”.
A PGR também destacou que os comandantes das três Forças assinaram uma nota permitindo a permanência dos manifestantes em frente aos quartéis, uma decisão que, segundo o documento, foi tomada por ordem direta do então presidente.
Braga Netto e o Incentivo à Movimentação nos Quartéis
A denúncia aponta ainda o envolvimento do ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, general Braga Netto, que teria atuado diretamente para incitar a movimentação nos quartéis. Em um dos episódios relatados por Mauro Cid, um vídeo mostra Braga Netto incentivando os manifestantes a manterem a esperança, pois “ainda não havia terminado e algo iria acontecer”.
A PGR sustenta que tanto Bolsonaro quanto Braga Netto esperavam que a crescente pressão popular e militar levasse as Forças Armadas a aderirem ao golpe. Para isso, estimularam a continuidade dos protestos em frente às unidades militares, prolongando a crise institucional.
Acusações e Consequências
Na denúncia, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, detalha a atuação de Bolsonaro e de seus aliados, afirmando que o grupo utilizou violência e grave ameaça para tentar impedir o funcionamento dos Poderes da República e depor o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Além da manutenção dos acampamentos, as acusações incluem ataques às urnas eletrônicas, afronta a decisões do STF e incentivo ao plano golpista. A denúncia reforça que o plano não se limitou a discursos e mobilizações, mas foi estruturado com apoio de militares e assessores próximos do ex-presidente.
O caso agora está nas mãos do STF, que analisará as acusações e decidirá sobre os desdobramentos do processo. Caso condenado, Bolsonaro e os demais envolvidos podem enfrentar penas severas por crimes contra a ordem democrática.