A jornalista Jacira Silva, aos 73 anos, nunca imaginou que veria seu nome em um prêmio de reconhecimento ao jornalismo negro. Nesta sexta-feira (26), durante a 17ª edição do Festival Latinidades, em Brasília, será entregue o Prêmio Jacira Silva, uma homenagem que celebra sua contribuição para o jornalismo e a luta pela igualdade racial.
Na categoria Jornalistas Negras, a gerente da Agência Brasil, Juliana Cézar Nunes, será premiada ao lado de destacadas profissionais como Maju Coutinho, da Rede Globo, e Basília Rodrigues, da CNN. “É o reconhecimento dos colegas pela nossa trajetória e o pouco que a gente consegue fazer para transformar e para contribuir para uma comunicação democrática, plural, não sexista. Espero que eu mantenha a minha coerência política e a minha dignidade como ser humano e que eu possa sempre representá-los e representá-las com muito Axé”, declarou Jacira.
Jacira Silva fez história ao se tornar a primeira mulher negra a presidir o Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, entre 1995 e 1998, além de fundar a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira/DF). Atualmente, ela é diretora de Condições de Trabalho e Qualidade de Vida do Sindicato.
Festival Latinidades: Celebrando a Mulher Negra na Mídia
O Festival Latinidades, considerado o maior festival de mulheres negras da América Latina, acontece até amanhã (27) no Museu da República, em Brasília. O evento, que conta com o apoio da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), inclui na programação de hoje um debate sobre a participação das mulheres negras na mídia, promovendo uma reflexão sobre o futuro com maior inclusão e representatividade.
Para Jacira, a presença de mulheres negras nas redações brasileiras, embora ainda reduzida, oferece uma nova perspectiva ao jornalismo. “Hoje, fruto da luta do movimento negro organizado no Brasil, nós mulheres negras estamos na TV, no rádio, nas redes como nós somos. Do jeito que a gente quer se vestir, quer se pentear. Com a nossa autoestima e com a nossa história, dos nossos ancestrais, das nossas famílias. E sem ser exótico, e sim sermos quem nós somos, com o nosso cabelo crespo, o nosso cabelo para cima, solto, trançado com o nosso nariz chato e com a nossa pele negra. Mas a gente ainda continua sendo uma ou duas, contando nos dedos.”
A Jornada Inspiradora de Jacira Silva
A trajetória de Jacira Silva é marcada por perseverança e superação. Após quatro tentativas frustradas de ingressar na Universidade de Brasília (UnB), ela iniciou seus estudos de comunicação em uma faculdade privada, enfrentando grandes dificuldades financeiras. “Eu não passava porque trabalhava, tinha dois empregos, sempre fui de escola pública. Mas não desisti do que eu queria ser.”
Jacira começou sua carreira como revisora na gráfica do Congresso Nacional e passou por redações de veículos como Correio Braziliense e Jornal de Brasília, além de atuar em rádios e jornais comunitários. Trabalhou também em assessorias de imprensa de órgãos públicos como o Ministério da Educação e a Funarte, além de se engajar no movimento sindical no DF.
Em sua carreira, Jacira enfrentou discriminação racial, que frequentemente colocava sua capacidade em dúvida. “A discriminação nos move quando ela vem na forma do enfrentamento. Ela não pode te abater e nem deixar você desistir, ela me fortalece. Mas ela não é boa, é óbvio, eu não quero ser discriminada para me fortalecer”, afirmou.
O Prêmio Jacira Silva é mais do que uma homenagem; é um símbolo da resistência e da luta pela igualdade racial no jornalismo brasileiro.