O tráfico de pessoas voltou a crescer significativamente, registrando um aumento global de 25% no número de vítimas em 2022, após uma queda durante a pandemia de covid-19. O Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas 2024, divulgado nesta quarta-feira (11) pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), destaca que mulheres e meninas continuam a representar a maioria das vítimas, com taxas alarmantes de exploração sexual e trabalho forçado.
Abrangendo dados de 156 países e cobrindo 95% da população mundial, o relatório analisa o período entre 2020 e 2022, com informações preliminares de 2023. Durante esse intervalo, foram registrados mais de 202 mil casos de tráfico humano, com um aumento expressivo de 47% no tráfico para trabalho forçado, comparado ao período anterior à pandemia.
Crianças e Mulheres: Grupos Mais Vulneráveis
Entre os principais achados, o estudo aponta que crianças constituíram 38% das vítimas notificadas em 2022, com meninas respondendo por 22% e sendo predominantemente traficadas para exploração sexual. Meninos (16%) foram alvo principalmente de trabalho forçado e outras formas de exploração, como atividades criminosas.
O aumento de crianças desacompanhadas e separadas ao longo de rotas migratórias, especialmente na Europa e América do Norte, contribuiu para o crescimento dos casos. Desde 2019, o número de vítimas infantis subiu 31%, com um crescimento de 38% entre as meninas.
As mulheres adultas representaram 39% das vítimas, enquanto 61% de todas as vítimas globais eram do sexo feminino. Mulheres e meninas são traficadas não apenas para exploração sexual, mas também para trabalho forçado, casamentos forçados e outras atividades exploratórias.
Tráfico e Contextos de Instabilidade
O relatório também relaciona o aumento do tráfico humano a crises globais, como conflitos armados e desastres climáticos. Instabilidade e deslocamentos forçados ampliam a vulnerabilidade de populações, especialmente em regiões de baixos rendimentos e em rotas migratórias internacionais.
Embora o tráfico para trabalho forçado tenha superado o tráfico para exploração sexual em números absolutos, condenações de traficantes continuam desproporcionais. Em 2022, 70% dos traficantes condenados estavam envolvidos em exploração sexual, enquanto apenas 17% foram responsabilizados por trabalho forçado, que representou 42% das vítimas no mesmo período.
Desafios e Recomendações
A ONU destaca que a maioria dos casos de tráfico é conduzida por grupos do crime organizado, com homens representando 70% dos investigados e condenados. O número de condenações globais ainda não recuperou os níveis pré-pandemia, mas registrou aumento de 36% em relação a 2020.
“O aumento alarmante do tráfico de meninas para exploração sexual em várias regiões exige ações urgentes”, alerta o UNODC. Recomendações incluem investigações centradas na vítima, programas de proteção personalizados e políticas robustas de prevenção.
O relatório conclui que esforços coordenados entre a comunidade internacional e governos nacionais são essenciais para enfrentar o tráfico humano, garantindo proteção às vítimas e responsabilização dos traficantes, especialmente em um cenário global marcado por crescentes desafios sociais e climáticos.