Renata acredita no poder da arte para remodelar a sociedade. “A arte tem essa incrível capacidade de provocar mudanças, de abrir corações, expandir mentes e trazer à luz questões ainda obscuras na sociedade, convidando à reflexão e ao debate. Eu vejo a arte como uma força capaz de transformar pensamentos e questionar conceitos”, destaca.
Para ela, é essencial a presença de pessoas trans nas artes, pois isso promove uma percepção de igualdade e contribui para o fim de qualquer forma de preconceito. “A representatividade faz com que pessoas não trans, os cisgêneros, compartilhem espaços conosco. E através desse convívio diário, podemos alcançar uma clara percepção de igualdade. Quando reconhecemos essa igualdade, naturalizamos a presença dos corpos trans nesses espaços, devolvendo-lhes sua humanidade”, explica.
Com uma trajetória de 23 anos, Renata acumula experiências marcantes, enfrentando diversas batalhas. “Já me deparei com situações em estúdios onde fui ridicularizada e questionada sobre minha presença ali. Diziam que minha voz não tinha credibilidade, que não era digna de confiança. Desde então, desenvolvi um trauma em relação à minha voz”, revela.
A redescoberta e aceitação de sua própria voz aconteceram quando Ariel Nobre, cineasta e artista trans, a convidou para narrar seu filme “Preciso Dizer Que Te Amo”, disponível online. “Inicialmente, recusei o convite, questionando sua escolha de uma travesti para narrar. Mas ele respondeu: ‘Quero que Jesus narre meu filme’. Aceitei e, ao ouvir minha voz no cinema, percebi que não era tão desagradável quanto imaginava. Desde então, tenho me dedicado à narração”, conta Renata, que já narrou quatro livros em áudio e almeja tornar-se uma referência na área.
No início deste ano, Renata decidiu fazer uma “pausa dramática” e planeja afastar-se temporariamente dos palcos para focar em seus estudos, escrita e projetos audiovisuais. “Quero me dedicar mais à escrita, tenho muitas ideias para livros e peças. Também pretendo concluir minha faculdade, algo que tenho adiado devido ao trabalho. Talvez até me envolva mais com a academia. Não abandonarei os palcos, mas sinto a necessidade dessa pausa para repensar minha prática artística”, conclui.