A retirada contínua de recursos da poupança, uma das aplicações financeiras mais tradicionais do Brasil, está gerando impactos significativos em setores-chave da economia. Entre eles, o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que historicamente tem sido uma importante fonte de financiamento imobiliário para a classe média, enfrenta desafios devido à saída persistente de investidores da caderneta de poupança.
Em janeiro, os saques superaram os depósitos na poupança em R$ 20,1 bilhões, marcando o quarto ano consecutivo de retiradas líquidas. Em 2023, foram retirados R$ 87,8 bilhões, em 2022, R$ 103,2 bilhões, e em 2021, R$ 35,4 bilhões.
O SBPE, que é alimentado pelos depósitos da poupança, historicamente tem coberto até 80% do valor de imóveis de até R$ 1,5 milhão, com juros limitados a 12% ao ano. No entanto, a diminuição dos recursos na poupança está impactando diretamente a disponibilidade de crédito para a compra de imóveis, afetando especialmente a classe média.
Marcelo Tapai, especialista em direito imobiliário, destaca que a mudança estrutural no mercado financeiro reflete a perda de atratividade da poupança como investimento, impulsionada pelo baixo rendimento e pela diversificação de opções disponíveis.
Com menos recursos disponíveis na poupança, os bancos têm menos dinheiro para emprestar pelo SBPE. Isso se traduz em uma redução no número de financiamentos para a compra de imóveis. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) observou uma queda de 20% a 30% nos lançamentos de unidades imobiliárias pelo SBPE no ano passado.
Diante desse cenário, os mutuários de classe média têm duas alternativas principais. Uma delas é recorrer aos financiamentos com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que também financia imóveis de até R$ 1,5 milhão, com juros limitados a 12% ao ano. A outra opção é o Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), que segue as taxas e condições de mercado, permitindo o financiamento de imóveis acima de R$ 1,5 milhão.
No entanto, a redução dos recursos disponíveis na poupança está levando os bancos a buscar outras fontes de financiamento, como títulos privados, o que pode resultar em juros mais altos para os mutuários. Esse cenário, por sua vez, tem o potencial de impactar o mercado imobiliário como um todo.
Apesar dos desafios enfrentados pelo SBPE, a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) prevê um crescimento de 3% no crédito imobiliário em 2024, impulsionado pelos financiamentos do FGTS. A CBIC também projeta um aumento no número de lançamentos imobiliários com recursos do FGTS e do programa Minha Casa, Minha Vida neste ano. No entanto, o impacto total dessas mudanças no mercado imobiliário ainda está por ser completamente avaliado.