Em resposta às severas enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul nos últimos 45 dias, o estado está adotando medidas rigorosas para prevenir a disseminação de doenças como a tuberculose. A destruição de inúmeros medicamentos e a aglomeração em abrigos temporários aumentam os riscos de contágio, especialmente com a chegada do frio e a permanência de áreas alagadas.
Ações de Controle da Tuberculose
O Hospital Sanatório Partenon, referência estadual no tratamento da tuberculose, está à frente das ações de controle. Carla Jarczewski, coordenadora do Programa Estadual de Controle da Tuberculose, destacou as iniciativas adotadas junto aos abrigos. “Estamos intensificando a busca por pessoas com sintomas respiratórios, como tosse, suores noturnos, falta de apetite e emagrecimento. Aqueles com suspeita ou diagnóstico confirmado devem usar máscaras para evitar a propagação da doença,” explicou.
Desafios com a Medicação
As enchentes também resultaram na perda de medicamentos por muitas pessoas em tratamento domiciliar. “Muitos perderam suas casas, documentos e remédios. Estamos trabalhando para restabelecer a medicação o mais rápido possível,” afirmou Jarczewski. Ela acrescentou que a situação de aglomeração favorece o contágio e que as medidas são essenciais para evitar um aumento nos casos de tuberculose.
Impacto das Enchentes e Notificação de Casos
Ainda é cedo para avaliar se as enchentes resultaram em um aumento significativo nos casos de tuberculose. Jarczewski explicou que, devido à natureza não aguda da doença, os dados demoram a ser integrados ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). “Os números mais precisos só serão conhecidos no final do ano,” disse ela.
Situação da População em Situação de Rua
O número de casos de tuberculose entre pessoas em situação de rua no estado vem crescendo desde 2017. Essas pessoas têm 56 vezes mais chances de contrair a doença do que a população em geral, devido à dificuldade de manter a continuidade do tratamento, que dura no mínimo seis meses. O Hospital Sanatório Partenon oferece suporte essencial para esse segmento da população.
Reposição de Medicamentos
Apesar das enchentes não terem atingido o depósito de medicamentos da Secretaria de Saúde, Porto Alegre perdeu muitos remédios. O estado recebeu apoio federal para repor os estoques e distribuiu os medicamentos conforme a necessidade dos municípios afetados. “Recebemos um reforço do Ministério da Saúde, que distribuímos rapidamente para as áreas necessitadas,” informou Carla.
Eficiência do Programa de Controle da Tuberculose
A situação epidemiológica da tuberculose no Rio Grande do Sul está sob controle, com cerca de cinco mil novos casos anuais e uma taxa de incidência de aproximadamente 42 casos por 100 mil habitantes. No entanto, a taxa de cura, que está em 58%, ainda é baixa comparada aos 85% recomendados pelo Ministério da Saúde e organismos internacionais.
Desafios e Preocupações Futuras
Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz e titular da Academia Nacional de Medicina, ressaltou que a tuberculose tem maior incidência entre pessoas em situação de rua devido à dificuldade de adesão ao tratamento prolongado. Ela também destacou a complexidade logística de tratar esses pacientes, especialmente em condições de desastre natural.
Além da tuberculose, há preocupação com outras doenças de transmissão respiratória e aquelas causadas pela exposição a águas contaminadas, como a leptospirose, que já resultou em algumas mortes no estado. “Sintomas respiratórios persistentes devem ser avaliados rapidamente em serviços de saúde,” alertou Dalcolmo, enfatizando a necessidade de diagnósticos rápidos e precisos para conter a disseminação dessas doenças.