Apesar de ter sido pioneiro no país com a criação de um sistema de sirenes para alertar moradores sobre riscos de deslizamentos, o Rio de Janeiro não ampliou a cobertura desde 2011. Atualmente, são 164 sirenes instaladas em 103 comunidades das zonas sul e norte, segundo dados da prefeitura. A zona oeste da cidade, uma das regiões mais vulneráveis, continua sem cobertura adequada.
Um estudo do projeto Rio 60ºC — realizado em parceria entre a empresa Ambiental Media e a Universidade Federal Fluminense (UFF) — aponta que centenas de comunidades seguem desassistidas. Segundo relatório do Tribunal de Contas do Município (TCM), de 2022, ao menos 400 comunidades não possuem sirenes nem estudos de risco geológico, especialmente nas áreas próximas ao maciço da Pedra Branca, na zona oeste.
“A zona oeste ainda precisa de estudos geológicos e sirenes. O sistema nunca foi expandido desde sua criação”, destaca Miguel Vilela, coordenador do projeto.
Alerta precoce e tecnologia
A prefeitura afirma que o sistema é referência nacional e está conectado a pluviômetros que enviam dados a cada 15 minutos para a Defesa Civil. Esses dados são usados para acionar as sirenes. Além disso, o município adotou novas ferramentas, como a tecnologia Cellbroadcast, que envia alertas diretamente aos celulares, mesmo que não estejam cadastrados em plataformas específicas.

Outra frente de atuação envolve alertas por SMS, WhatsApp e a capacitação de lideranças comunitárias, além da criação de pontos de apoio em áreas de risco. O município também destaca o uso de dois radares meteorológicos — um no morro do Sumaré (desde 2010) e outro no morro do Mendanha, instalado em 2024 — e do Centro de Operações Rio (COR), que coordena as respostas a emergências climáticas.
Vulnerabilidade social e riscos
Estudo divulgado nesta semana pelo projeto Rio 60ºC identificou 599 mil domicílios em situação de alto risco a desastres naturais — o equivalente a 20% das residências da cidade. Desses, 142 mil estão em situação de vulnerabilidade muito alta, somando fragilidade socioeconômica e suscetibilidade ambiental. Os riscos envolvem principalmente inundações (530 mil domicílios) e deslizamentos (60 mil).
A pesquisadora Mariza Ferro, da UFF, defende que soluções comunitárias, como pluviômetros improvisados, podem ajudar em áreas ainda não cobertas pelo sistema oficial. “É importante que as comunidades tenham acesso aos dados e ferramentas para agir com autonomia”, afirma.
Justiça climática e habitação
O historiador Walmyr Junior, que atua com projetos de sustentabilidade no Complexo da Maré, ressalta que os eventos extremos atingem de forma desproporcional a população pobre e preta. “O racismo ambiental é um mecanismo de controle e exclusão. Falta saneamento, sobra vulnerabilidade. Precisamos de políticas públicas que garantam habitação digna e acesso à cidade”, diz.
Segundo ele, é necessário um programa habitacional robusto que retire moradores das áreas de risco com dignidade, e não apenas por meio de auxílios temporários.
Investimentos em obras
Em resposta, a prefeitura informou que investiu mais de R$ 1,2 bilhão em obras de drenagem nas zonas norte e oeste, por meio do programa Bairro Maravilha. Somente em 2024, foram investidos R$ 71 milhões em obras de infraestrutura e R$ 58 milhões em limpeza de rios, beneficiando mais de 173 km de canais. Além disso, mais de 130 ralos e “mega ralos” foram instalados em regiões vulneráveis da cidade.
A Fundação Geo-Rio também informou que mantém atualmente 35 frentes de obras em andamento, como parte dos esforços de prevenção e contenção de desastres.